suponham por um instante que vocês estejam diante de uma palavra como "divino", "absoluto", ou "eterno", palavras a partir das quais vocês podem pensar praticamente tudo e que, apenas na medida em que podem pensar tudo a partir delas, corresponderiam à pretensão de absolutez [Absolutheit] que elas próprias indicam. Ao procurar, então, elucidar tal palavra por meio de uma proposição - dizendo talvez "o absoluto é o imutável, o que permanece igual a si mesmo", ou "o absoluto é identidade entre pensar e ser"-, neste mesmo momento já terão justamente colocado um limite àquele significar-tudo [Allbedeutendes], que adere ao pathos de uma palavra desse tipo, isto é, sua pretensão a uma validade pura e simples, e, por isso mesmo, já terão alterado o próprio conceito. Vocês poderiam expressar isso também da seguinte maneira: somente é possível determinar um conceito como o de absoluto, eterno ou divino, na medida em que o delimitamos ou alteramos, e essa alteração é o ponto decisivo para o pensamento dialético. Tal alteração não seria algo externo, algo que nós estaríamos fazendo a tal palavra, a tal conceito, por meio de nossas reflexões. Pelo contrário, é a palavra ou o conceito que nos compele a isso, caso pretendamos compreendê-lo enquanto tal, caso queiramos conferir-lhe um conteúdo determinado, por meio do qual primeiramente se converterá em um conceito, a delimitá-lo como fica indicado nessa ponderação de Hegel. Aqui, vocês têm uma explicação do princípio da dialética e, ao mesmo tempo, um caso paradigmático, um exemplo para uma dialética posta em execução em um conceito bastante determinado. "O que é mais" -diz ele- "do que tal palavra, também somente a passagem a uma proposição, contém um devir-outro que tem de ser retomado: é uma mediação." A expressão "mediação" significa em Hegel sempre a própria alteração que tem de ser exigida de um conceito// no instante em que se deseja apreender esse mesmo conceito. Pode-se também dizer, portanto, que a mediação é o momento do devir que está posto em todo e qualquer ser. E se a dialética é a filosofia que se preocupa universalmente com a mediação, então isso significa também o seguinte: não há nenhum ser que, na medida em que vocês tentem determiná-lo como tal, não se torne realmente, ao mesmo tempo, um devir.
— Introdução à dialética by Theodor W. Adorno (Page 100 - 101)