Colocando de maneira bem direta, e para tentar mais uma vez fazer esse difícil conceito adquirir um pouco mais de sentido, "o todo" em Hegel significa que a verdade não consiste em definir, de maneira isolada, um conceito qualquer e, a partir daí, nesse isolamento, passar a tratá-lo como se fosse um mero setor, mas consiste antes em considerar tal conceito na relação com a totalidade na qual se insere. Aqueles dentre vocês que se ocupam com as ciências da sociedade podem ter uma imagem disso de maneira bem nítida, quando, por exemplo, precisam investigar setores sociais específicos - digamos, na sociologia do trabalho-, relações específicas, como as que se estabelecem no interior de determinada fábrica ou em determinado ramo industrial. Então, vocês irão se deparar aqui e ali com todas as determina ções possíveis, cuja causa, no entanto, não estará efetivamente naquele lugar particular, naquele trabalho específico, no ramo industrial particular que vocês estiverem estudando, mas antes estará articulada a questões bem mais amplas, digamos, à situação da mineração ou às condições de trabalho dos mineradores hoje em dia, ou ainda ao processo de produção como um todo e até, em última instância, à estrutura social mais ampla, na qual se insere atualmente a indústria de extração e beneficiamento de matéria-prima. Apenas quando vocês conseguirem perfazer essa reflexão em direção ao todo, poderão compreender o particular de maneira propriamente correta. Portanto, essa necessidade de ver fenômenos particulares de maneira bem precisa em sua particularização, porém sem// permanecer estagnado nessa particularização, e sim extrapolando-a, entendendo-a dentro da totalidade a partir da qual aqueles fenômenos recebem sua determinação - esta necessidade é, em primeiro lugar, a mais essencial de todas as diretrizes contidas na sentença de Hegel de que o todo é o verdadeiro. E creio que, dentre os motivos mais convincentes para se desenvolver um conceito dialético de conhecimento, contraposto à ciência meramente positivista, este é o primeiro a se destacar.
— Introdução à dialética by Theodor W. Adorno (Page 112 - 113)