a refutação da verdade de uma proposição ou a negação dessa proposição, ou ainda - para lhes dar, de uma vez por todas, aquela palavra-chave que provavelmente estavam esperando - que a antítese de uma tese não é algo acrescentado de fora, mas é antes aquilo que decorre da postura consequente do próprio pensamento. Creio que, se vocês quiserem ter um conceito filosófico de dialética e se desvencilhar do conceito pré-filosófico, prosaico e trivializado de dialética, que se resumiria a dizer, por exemplo, algo como "pois bem, para tudo aquilo que é dito, pode-se, de algum modo, sempre se dizer o contrário", então encontrarão nessas sentenças de Hegel a oportunidade para isso. Pois é contra essa sabedoria prosaica e relativista que se volta de fato aquilo que aqui é desenvolvido por Hegel, a saber: que a antítese não é algo contraposto à proposição a partir de fora, como se fosse uma réplica. Para ele, isso não passaria de uma controvérsia sofística de opiniões. Antes, o que ocorre é que// o oposto [Gegensatz] da proposição sempre se depreende da própria proposição, de sua própria consequência, como tentei sumariamente lhes indicar na relação entre o Eu e o Não-Eu, a qual fornece, a propósito, justamente a decisiva temática para a Fenomenologia de Hegel. Pensar dialeticamente não significa, portanto, contrapor, digamos, a uma proposição qualquer uma outra opinião a partir de fora, mas sim impelir o pensamento até o ponto em que ele se aperceba, de certa maneira, de sua própria finitude, de sua própria falsidade e, por meio disso, se impulsione para além de si mesmo.
— Introdução à dialética by Theodor W. Adorno (Page 125 - 126)