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Theodor W. Adorno: Introdução à dialética (Paperback, Português language, 2012, Unesp) No rating

Dialética é uma orientação na filosofia cujas motivações se entrelaçam com a própria origem do …

de modo geral, o pensamento dialético hegeliano - e também o marxiano, a propósito-, na medida em que é um pensamento crítico, envolve sempre crítica imanente. Quando se realiza uma crítica a um construto, então essa crítica pode - e essa é uma maneira popular de se falar - ou ser uma crítica transcendente, isto é, ela pode avaliar o construto, a realidade ou o que quer que seja segundo um pressuposto qualquer que, embora pareça àquele que julga estar hem estabelecido//, não se baseia, contudo, na coisa [Sache] enquanto tal; ou pode se tratar de uma crítica imanente, isto é, lá onde a crítica se realiza, ela pode avaliar levando em consideração seus próprios pressupostos, a própria lei formal [Formgesetz] . O caminho dialético é sempre aquele da crítica imanente, ou seja, não se deve, no sentido em que procurei explicar a vocês, abordar a coisa com base num critério que lhe seja exterior, nem "asseveração" [~rsicherung] nem "inspiração" [Einfall]; mas sim a coisa deve, para chegar a si mesma, ser avaliada em si mesma, em seu próprio conceito. Quando alguém como Marx, para lhes dar um exemplo proveniente da dialética materialista, realiza uma crítica à sociedade capitalista, isso jamais ocorre contrapondo a ela uma sociedade por assim dizer ideal, talvez a assim chamada sociedade socialista. Em Marx, isso é cautelosamente evitado a todo momento, da mesma maneira que Hegel nunca se incumbiu de imaginar a utopia ou a ideia efetivada. Acerca disso predomina, em ambas as versões da dialética, um severo tabu. Quando Marx realiza uma crítica à sociedade, ele procede de tal maneira que a avalia por aquilo que ela, a partir de si mesma, reivindica ser, dizendo por exemplo: "esta sociedade pretende ser uma sociedade da troca livre e justa. Ora, nós queremos justamente ver se ela corresponde a essa pretensão que lhe é própria". Ou ainda: "ela pretende ser uma sociedade de sujeitos livres que trocam, que se apresentam uns aos outros como contraentes; nós queremos ver, então, o que propriamente acontece com essa pretensão". Todos esses momentos - que justamente caracterizam o método marxiano e que, aliás, tomam bastante difícil compreender o método marxiano no sentido adequado e não naquele sentido distorcido de uma doutrina da sociedade ideal, doutrina da qual Marx estava consideravelmente afastado - todos esses momentos estão delineados nessa passagem do texto de Hegel.

Introdução à dialética by  (Page 129 - 130)