O pensamento esperançoso não é otimista. Ao contrário da esperança, ao otimismo falta qualquer negatividade. Ele não conhece dúvidas nem desespero. A pura positividade é sua essência. Ele está convencido de que tudo ficará bem. Para o otimista, o tempo é fechado, então, o futuro como um espaço aberto de possibilidades é desconhecido para ele. Nada acontece. Nada o surpreende. O futuro lhe parece disponível. No entanto, é inerente ao autêntico futuro sua indisponibilidade. O otimista nunca olha para a distância indisponível. Ele não conta com o inesperado ou com o incalculável. Ao contrário do otimismo, que não carece de nada, que não está a caminho, a esperança representa um movimento de busca. É uma tentativa de ganhar apoio e direção. Nisso, ela também avança para o desconhecido, o não trilhado, o aberto, o que ainda-não-é, ultrapassando o sido, indo além do já existente. Ela se dirige ao não nascido e põe-se a caminho do novo, do completamente diferente, do nunca sido. O otimismo não precisa ser primeiramente conquistado. Ele já está aí, de maneira tão autoevidente e inquestionável quanto a estatura ou as características inalteráveis de uma pessoa: “Assim, o otimista está acorrentado à sua alegria, assim como o condenado das galés ao seu remo – uma perspectiva bastante desoladora”4. O otimista não precisa fornecer motivos para sua atitude. A esperança, por outro lado, não tem uma presença autoevidente. Ela desperta. Com frequência, precisa ser chamada, invocada. Ao contrário do otimismo, que carece de determinação, a esperança ativa é caracterizada por um comprometimento. O otimista não atua por conta própria. Toda ação sempre envolve um risco. O otimista, contudo, não arrisca nada. O pessimismo não difere fundamentalmente do otimismo. É sua contraparte espelhada. Para o pessimista, o tempo também é fechado. Ele está encerrado no “tempo como prisão”5. O pessimista rejeita tudo categoricamente, sem aspirar à renovação, sem permitir-se mundos possíveis. Ele é tão obstinado quanto o otimista, e tanto o otimista como o pessimista são cegos para possibilidades. Eles não conhecem nenhum evento que daria uma virada surpreendente ao curso das coisas. Eles não têm a fantasia do novo, a paixão pelo jamais sido. Quem tem esperança aposta em possibilidades que apontam além do “pessimamente existente”6. A esperança nos capacita a escapar do tempo fechado como prisão.
— O espírito da esperança by Byung-Chul Han (11%)