O curso do raciocínio de Hegel alcança a seguir uma elevação virulenta. Partindo da definição de trabalho como desejo recalcado, ele conduz para a ideia fecunda de que o trabalho instrui e forma: não só o objeto, mas, pelo trabalho, também o homem trabalhador.
Quem lê o seguinte texto torna-se consciente de sua pregnância histórica. São as mesmas palavras que irá ler mais tarde um jovem estudante chamado Karl Marx. É dessas palavras que ele irá deduzir mais tarde o conceito de trabalho. Essas palavras de Hegel são a semente usada por Marx para sua proposta realmente revolucionária, segundo a qual, se o trabalho forma o homem, as condições de trabalho desumanas da sociedade industrial moderna acabam deformando-o. Posteriormente, Marx irá constatar que, por meio de seu trabalho, o trabalhador produz sua própria alienação!
Em Hegel, isso tem um tom positivo: “através do trabalho ela [a consciência] vem a si mesma”, e quiçá através da liberdade do senhor. Em virtude de seus interesses sociais, Karl Marx converte essa menção para o aspecto negativo: em virtude das condições desumanas de trabalho, o trabalhador jamais chega a si mesmo – acusando os detentores do capital numa crítica social inflamada.
— Fenomenologia do espírito by Ralf Ludwig (Page 91 - 92)