A minha opinião (e é aqui o lugar natural desta explicação) é que todo erro é uma conclusão do efeito para a causa, esta conclusão é justa quando se sabe que o efeito procede de tal causa e não de uma outra; de outro modo já não o é. De duas uma: ou aquele que se engana atribui a um efeito uma causa que não pode ter, caso que dá prova de uma pobreza real do entendimento, isto é, de uma incapacidade notória para apreender imediatamente a ligação entre o efeito e a causa; ou é o que acontece quase sempre - atribui-se ao efeito uma causa possível; mas, antes de concluir do efeito para a causa, acrescenta-se às premissas da conclusão a ideia subentendida de que o efeito em questão é sempre produzido pela causa que se indica, o que só se está autorizado a fazer depois de uma indução completa, mas que se faz no entanto sem ter preenchido esta condição. Este sempre é um conceito muito vasto; seria preciso substitui-lo por até agora ou quase sempre. Então a conclusão será problemática, e, nessa qualidade, não será falsa. A causa do erro que acabamos de referir é uma grande precipitação, ou um conhecimento limitado das possibilidades, que Impede de ver a necessidade de uma indução. O erro é, pois, em todos os aspectos, análogo à ilusão; ambos consistem em concluir do efeito para a causa, sendo sempre a ilusão produzida pelo simples entendimento, de acordo com a lei da causalidade, isto é, na própria intuição; e, por outro lado, sendo o erro produzido pela razão pura, de acordo com o princípio da razão, sob todas as suas formas, isto é, no próprio pensamento, mas quase sempre também de acordo com o princípio da causalidade, como o provam os três exemplos seguintes, que se podem considerar como os três tipos ou símbolos dos três gêneros de erros: 1º A ilusão dos sentidos (ilusão do entendimento) ocasiona o erro (ilusão da razão pura), por exemplo, quando se toma um quadro por um alto relevo e o vemos realmente como tal; para isso não é preciso mais do que tirar a conclusão desta premissa: "Quando o cinzento escuro se deposita sobre uma superfície diminuindo gradualmente até o branco, é preciso procurar sempre a causa disso na luz que ilumina de modo diferente as saliências e as concavidades". 2º "Quando constato que tiraram dinheiro do meu cofre, é sempre porque a minha criada mandou fazer uma chave falsa: ergo." 3º "Quando a imagem do sol refratada por um prisma isto é, desviada para cima ou para baixo, em vez de ser branca e circular como anteriormente, se mostra alongada e colorida, isso resulta uma vez por todas de que havia na luz raios luminosos diversamente coloridos e diversamente refrangíveis, os quais, separados em virtude da sua diferença de refrangibilidade, formam então essa imagem deformada e diversamente colorida: ergo bibamos." Todo erro deve reduzir-se, assim, a uma falsa conclusão tirada de uma premissa, que quase sempre é apenas uma falsa generalização ou uma hipótese, e que consiste em supor uma causa para um efeito. Não se passa o mesmo, como se poderá supor, com as faltas de cálculo, que não são erros, para falar rigorosamente, mas simples equívocos: a operação que os conceitos dos números indicavam não foi efetuada na intuição pura, no ato de contar; substituiu-se por uma outra.
— O Mundo como Vontade e Representação by Arthur Schopenhauer (Page 88 - 89)