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reviewed O saber dos antigos by Giovanni Reale (Leituras Filosoficas)

Giovanni Reale: O saber dos antigos (Portuguese language, 2014, Edições Loyola) No rating

Uma boa ideia nas mãos erradas

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Com base nas interpretações heideggerianas do niilismo nietzschiano Giovanni Reale indica os dez males contemporâneos, propondo uma terapia baseada no pensamento antigo.

Apesar de apontamentos relevantes, sinto um certo descolamento da realidade por parte de Reale alimentado por um antimarxismo que o impede de enxergar certas raízes para os verdadeiros males contemporâneos. Isso se mostra de forma muito visível em sua crítica ao produtivismo, o autor aponta a nossa “necessidade de fazer” e uma corrida desenfreada por desenvolvimento como fim em si próprio e não consegue associar esse fenômeno ao modo de produção expansionista do capitalismo. Reale sugere a vida contemplativa como alternativa, está sendo o objetivo supremo de todo homem e não percebe que não há alternativa para o homem médio a não ser produzir

No próximo capítulo Reale salienta a problemática da felicidade como o bem-estar material onde a “abundância dos bens materiais, em vez de preencher o homem, o esvaziou”, novamente não percebe a lógica capitalista de produção e consumo, Marx nos alerta nos Manuscritos Econômico-Filosóficos “Todas essas conseqüências decorrem do fato de o trabalhador ser relacionado com o produto de seu trabalho como com um objeto estranho. [...] O trabalhador põe a sua vida no objeto, e sua vida, então, não mais lhe pertence, porém, ao objeto.” o trabalho nos aliena e ao consumirmos o fruto do trabalho nos alienamos novamente.

Seu capítulo sobre a não violência chega a soar cômico em sua timidez. Começando como uma crítica geral a violência em abstrato, aos poucos o autor caminha para um pensamento anti revolucionário sem nunca mencionar diretamente algum processo revolucionário, se contenta com uma fábula um tanto quanto ingênua de Dino Buzzati, “A revolta dos cretinos” um conto um tanto caricato sobre a busca por igualdade que descamba para o empobrecimento da sociedade. Essa parte soa desconexa do contexto da não violência passado até então, uma digressão gratuita ao tema que não tem coragem para levar ao fim suas verdadeiras intenções

Em outro capítulo Reale advoga contra o “ideologismo” em uma tentativa maior de negar Marx. Interpreta a ideologia como uma forma de “fé” que corrompe e que pode “subverter os próprios fatos e violentar a realidade, como a história do marxismo e do chamado socialismo real comprovam”, irônico como o autor não reconhece os próprios ideologismos na fala. De forma geral Reale se precipita ao tratar da ideologia como um objeto de atribuição, ativamente apossada que macula a “verdade”. De uma forma tanto quanto romântica Reale prega pela “verdade” como a luz que ilumina o mundo e trata a ideologia como a negação da verdade. É esta visão moral

Mesmo nos momentos onde seu antimarxismo não se mostra diretamente aparente o autor permanece dissonante com a realidade, um de suas críticas durante seu livro é do cientificismo, algo que pode sim estar presente dentro de certos círculos, principalmente os acadêmicos mas que de forma alguma é um mal da sociedade contemporânea. Muito pelo contrário vivemos uma onda da anticiência e fanatismo religioso, se o livro dá a entender que estamos nos tornando demasiadamente céticos “anti-metafísicos” a realidade mostra que talvez precisemos de um pouco mais de ceticismo

No geral o livro apresenta um bom conceito em encontrar as origens de nosso mal estar mas falha na radicalidade ao defrontar-se com eles. O livro foi um grande potencial desperdiçado, quem sabe com a mesma ideia com o autor certo não encontremos uma grande perola