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Fabiane Guimarães: Apague a luz se for chorar (Paperback, Português language, 2021, Alfaguara) 5 stars

Em Apague a luz se for chorar, duas narrativas se entrelaçam para compor um retrato …

"Aquela gente que só se reunia nos natais, depois passou a se encontrar nos enterros e agora não se vê nunca mais."

5 stars

Esse foi um livro curto mas bastante intenso! Me tocaram bastante os temas sobre família e morte aqui e me vi o tempo todo refletindo e fazendo paralelos com os personagens e a mim mesmo e minhas relações com meus pais e parentes. É surreal o quanto a vida da gente pode mudar completamente em instantes e nos jogar numa espiral de luto, lembranças e paranoias.

A prosa de Fabiane é excelente, com frases arrebatadoras capazes de ressoar no leitor tão logo são lidas. Da para ver um esmero em cada escolha de palavras. Também destaco a habilidade da autora de manter o ritmo em alta mesmo com pontos de vista distintos alternando-se a cada capítulo, coisa que geralmente me dispersa muito em outros livros.

Alguns comportamentos dos personagens são um pouco irritantes, mas eu boto na culpa da própria humanidade e complexidade dos mesmos. Os protagonistas, Cecília e João tem muitas camadas acumuladas e são capazes tanto de despertar nossa compaixão quanto ira. Os coadjuvantes também são bem caracterizados e possuem facetas cômicas marcantes. Dona Faustina e suas boas intenções, dona Luzia e seu pequeno probleminha de ser cleptomaniaca, o gerente do banco com seu sorriso de verniz cínico, o cardiologista que cansado de tudo e todos foi fazer arte no mato... Eu apenas queria ter criado mais simpatia pelo Caio, mas a visão nebulosa de Cecília enquanto narradora nos priva de ver um lado bom nele sem o véu da desconfiança até que seja tarde demais e o livro acaba.

Aliás achei o desfecho um pouco apressado, mas o livro amarra bem todas as pontas soltas, segurando uma grande revelação para o seu momento final. De fato, o suspense construído ao longo dele é muito bem executado e mesmo que você faça suposições acertadas, ainda assim será surpreendido. Talvez prolongar esses instantes fizesse a construção ruir e tudo bem refletir melhor sobre tudo com a última página já virada.

O tom geral é melancólico e aflitivo, como um bom drama familiar deve ser, mas a autora ainda encontra espaços para acenos cômicos interessantes e bem oportunos. Me diverti com as aventuras de João, que de cuidador de cães no canil se torna um ladrão ao estilo Robin Hood. E Cecília paranoica criando teorias mirabolantes para explicar os fatos obscuros que cercam a morte simultânea de seus pais.