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Pedro Eiras: Inferno (Paperback, Portuguese language, 2022, Assírio & Alvim Brasil) 4 stars

A Assírio & Alvim lança no Brasil Inferno, única obra de poesia finalista em 2021 …

"Cai morta em pleno voo uma asa de pássaro nas lajes da praça."

4 stars

Estranho não ter muito a dizer destes poemas, talvez porque não são do tipo que me encantam ou tocam com maior força, embora tenha achado alguns versos interessantes aqui e fiquei satisfeito para um livro que comprei apenas para prestigiar a chegada de um dos selos lusitanos mais aclamados em solo brasileiro, o Assírio & Alvim.

Parece que o poeta Pedro Eiras presta homenagens a Divina Comédia de Dante, mas atualiza o conceito de Inferno cristão do poeta toscano para o nosso cotidiano mundano de todos os dias.

Destaco esses três poemas e trechos:

VI - "pois não merece a dor na morte quem já caregou / toda a vida o inferno no sangue"

Até no inferno é preciso haver misericórdia, nem todos são dignos dele

X - "Colecionador a sangue frio, / despreza o fruto apetecido, / desiste, vira costas, depois volta / e faz o favor / de arrebatar o lote."

sobre quem coleciona desgraças, julga e sentencia a uma condenação com o maior dos rigores e deleites

XVII - "Respirar todos os dias dá imenso trabalho, / e verificar a cotação própria no juízo dos outros;..."

sobre o fazer poético e o reconhecimento e a pouca valoração das artes

Em 33 poemas acompanhamos algumas das angustias e tormentos, dos insones, do homem urbano, pandemia, clima, estresse, economia, insuficiência... é tudo presente e incômodo, mas não intolerável, talvez por já estarmos mais que habituados a tudo isso. Ainda que seja uma realidade terrível, no banho Maria em que nos mantemos para aguentar os infernos diários, sequer notamos que aos poucos nos cozinhamos e deixamos de ser a nós mesmos.

O tom melancólico perpassa quase todos eles, há uma frustração e uma desesperança com tudo sempre presente, mas isso já é o esperado de quem, assim como Dante Alighieri, já cruzou certos portões...