Marte reviewed Píppi a bordo by Astrid Lindgren (Píppi Meialonga, #2)
A graça de Píppi a Bordo acaba no racismo colonialista
3 stars
Content warning Inclui detalhes sobre o final do enredo. Assuntos sensíveis: racismo
Píppi a Bordo é o segundo volume da trilogia de Píppi Meialonga. Conta mais aventuras suas com Tom e Aninha em uma cidadezinha da Suécia, em uma casa chamada Vila Vilekula. Dessa vez, entretanto, uma coisa nova acontece lá para o final do livro: seu pai, Capitão Efraim, ausente durante o primeiro livro, volta para ver a filha depois de um naufrágio. Acontece que Efraim não é um homem qualquer; além de capitão de uma embarcação, a Pula-Sapo, ele passou por um naufrágio e voltou vivo, rei "dos canibais", nomeados como currecurredutões, moradores de Currecurredutina, uma ilha. O livro deixa bem explícito que esses tais canibais são povos de cor de pele preta, fazendo inclusive referências jocosas ao assunto, como na parte em que Píppi se suja com a fuligem da caixa de lenha e a autora compara sua cor à dos canibais (implicitamente relacionando a cor preta com sujeira). Em outro trecho, Píppi descreve as crianças suecas como "brancas como anjinhos", mais um trecho em que é impossível ignorar a carga colonialista e racista do livro. Essa observação não se trata de "cancelar" um livro original de 1946, nem diminuir sua capacidade narrativa (que, inclusive, é excelente, assim como o livro inicial de Píppi Meialonga). Na minha opinião, trata-se de fazer uma leitura acompanhada e crítica junto às crianças que leem o livro. É possível, ao mesmo tempo, vivenciar o universo criativo feito por Lindgren e introduzir temas como racismo e colonialismo, principalmente para crianças brancas. Enfim, eu gosto muito de Píppi. Ela é, entretanto, cria de um momento histórico, nas palavras de uma europeia branca nos anos 1940. Por isso, nesse livro, a mágica de Píppi já não se mantém intacta, na minha opinião.