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Julián Fuks: A Resistência (Paperback, português language, 2015, Companhia das Letras) 4 stars

“Meu irmão é adotado, mas não posso e não quero dizer que meu irmão é …

Argentino demais para ser brasileiro, brasileiro demais para ser argentino

4 stars

Esse livro é uma peça de ficção muito autobiográfica de Julián Fuks, um autor brasileiro filho de pais exilados da Argentina durante uma ditadura militar (1976-1983). Digo que é uma ficção muito autobiográfica porque muitas coisas que aparecem no livro no tocante ao protagonista são praticamente idênticas aos dados públicos de Fuks, incluindo o fato de ser filho de exilados políticos argentinos. Onde termina a realidade e começa a ficção e vice-versa é algo que o autor nunca deixou claro, e parte da graça do livro.

É um livro relativamente curto, que traz bastante coisa da psicanálise Winnicottiana, e relaciona as pontes entre traumas relacionados à ditadura e traumas familiares associados ao exílio e à adoção de crianças. Em alguns momentos, eu me irritei com o tom pesaroso que o protagonista assume para si mesmo frente ao seus dilemas com o irmão adotivo, mas da metade para o final o livro engrena e é bem interessante. Além disso, o tempo inteiro somos encarados pela questão: o que é uma narrativa real, de acordo com os fatos, ou é coisa da memória do protagonista enviesada pelo tempo?

Comecei pensando que não merecia o Jabuti de 2016, mas mudei de ideia. É uma narrativa muito interessante e que expõe feridas pustulentas abertas nas famílias que lidam com o trauma de ditaduras - como a minha.