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Frantz Fanon: Pele Negra, Máscaras Brancas (Paperback, português language, 2020, Ubu) 5 stars

Com uma interpretação psicanalítica da questão negra e uma linguagem literária transformadora, este livro se …

"Ó meu corpo, faz sempre de mim um homem que questiona!"

5 stars

Pele Negra, Máscaras Brancas é um clássico de Fanon que ressurge a partir do sucesso de seu livro Os condenados da terra. Alguns tentam colocar em contraposição as visões de Fanon no primeiro (lançado em 1952) e no segundo (lançado em 1961, pouco antes de Fanon morrer de leucemia, aos 36 anos). No primeiro, Fanon explora mais profundamente as relações psicológicas do racismo, tanto nos brancos quanto nos negros (sejam eles africanos ou antilhanos), e tem um cuidado especial sobre a subjetividade. Ainda não li Os condenados da terra, mas, pela sua importância histórica na luta de libertação da Argélia perante a França, entendi pelo posfácio escrito por Deivison Faustino que tem um caráter mais revolucionário e alimentado pelo marxismo. Cedo demais para afirmar qualquer coisa, afinal de contas nem li o livro de 1961, mas algo me diz que essa leitura é injusta com a obra de Fanon.

Em Pele Negra, Máscaras Brancas, Fanon articula brilhantemente psicanálise (com algumas críticas devidas a Freud e Lacan), Hegel, Aimé Cesaire (que eu quero muito ler depois desse livro), Marx, Sartre e outros autores para a construção do que seria o racismo à francesa. Uma coisa que achei curiosa é como o racismo à francesa se aproxima do racismo à portuguesa no sentido de se dizer não racista e sim uma democracia racial: a mesma mentira que usamos no Brasil os franceses alegavam por lá em 1950, numa contraposição falsa ao racismo à britânica.

Minha principal crítica é que Fanon é bem rápido e pungente ao criticar - honestamente e justamente - o racismo branco e a incapacidade do branco de ver o negro como seu igual, ao mesmo tempo que ele lança mão várias vezes de misoginia e homofobia para provar seus pontos. É no mínimo irônico que um autor tão importante para a teoria pós-colonial 30 anos depois defenda pontos de vista tão homofóbicos, incapaz de enxergar as dissidências sexuais como... suas iguais... Mas precisamos tomar cuidado ao não cair no anacronismo ao fazer essa crítica. E Grada Kilomba, na introdução do livro para a Editora Ubu, consegue fazer isso bem.

Recomendo a leitura.