Review of 'Zika: do Sertão nordestino à ameaça global' on 'Goodreads'
5 stars
neste livro, debora diniz constrói uma narrativa sobre a chegada e desenvolvimento do vírus zika no brasil. essa é uma história de muitos personagens. nos termos do livro, médicos de beira de leito, cientistas de bancada e uma multidão de mulheres nordestinas foram protagonistas de um dos mais graves surtos epidêmicos da história brasileira.
a qualidade da pesquisa realizada pela autora impressiona, principalmente considerando sua atualidade: menos de um ano separa o momento em que escrevo esses parágrafos e os eventos narrados no livro. nesse meio tempo, debora diniz imergiu no epicentro da epidemia, entrevistou mães de bebês com a síndrome congênita do vírus, revisou décadas de literatura científica e milhares de noticiários nacionais e internacionais. o resultado foi uma narrativa fluida, sem barreiras para quem não esteja familiarizado com o jargão médico ou antropológico, mas com um rigor pouco visto mesmo em algumas publicações mais especificamente acadêmicas.
além de ser uma fonte bastante precisa sobre um momento histórico, a narrativa explora ainda os modos de fazer da ciência e como os fluxos de circulação de recursos financeiros e reconhecimento seguem no brasil os caminhos das desigualdades regionais e de gênero. a corrida pela descoberta e compreensão do zika vírus foi desde o início liderada por pesquisadores e pesquisadoras da periferia da produção científica no país, com um destacado protagonismo de médicas e biólogas. os saberes acadêmicos não foram, porém, os únicos responsáveis pelos avanços no conhecimento sobre o vírus. diniz mostra como a comunicação entre as mães de crianças atingidas pelo zika foi importante para a compreensão dos efeitos da síndrome congênita do zika.
dessa forma, ao valor histórico do trabalho, soma-se a contribuição para a análise epistemológica da ciência. o conhecimento humano não se faz apenas nos laboratórios, mas também pelos questionamentos, hipóteses e observações de pessoas comuns no sertão nordestino ou de médicos atendendo em pequenas cidades do interior do país.