Eu nem sei quando terminei de ler esse livro. Na verdade, acho que nunca comecei propriamente. Também acho que nunca o terminei, e acho que não o terminarei, porque sempre volto a ele com olhos novos. O que li, primeiramente, foi um trecho enorme numa enciclopédia, quando eu tinha uns oito ou nove anos. Me diverti demais com a ideia de um mundo absolutamente plano, com os triângulos isósceles fazendeiros, as casas pentagonais, os sábios icoságonos... mas a enciclopédia não entregava tudo. Anunciava que o Quadrado, protagonista, descobriria um novo mundo, e ficava por aí. Anos depois, encontrei esse livro numa edição da Conrad. Leitura meio truncada por causa das frases longas, mas a mesma diversão da infância estava lá, agora temperada pelas generosas cargas de sátira social que a idade finalmente me permitia compreender. Não lembro por que devolvi o livro à biblioteca sem terminá-lo, mas me lembro de ter parado nos últimos diálogos do Quadrado com a Esfera, antes de o Quadrado tentar disseminar sua doutrina. Agora, enfim, encontrei nova edição, e comprei-o para minha filha. Nos divertiremos muito lendo-o juntos.