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Um grupo de militantes na neblina: Incêndio (Paperback, pt language, 2022, Contrabando Editorial) 5 stars

Faz alguns anos que nos deparamos com tretas que interrompem os fluxos de avenidas e …

Dois retratos de tempos turbulentos

5 stars

Este livro é composto pela introdução e por dois ensaios: "'Olha como a coisa virou'", publicado originalmente no Passa Palavra (passapalavra.info), e "Masterclass de fim de mundo", publicado originalmente num site improvisado pelos autores (https://neblina.xyz/).

Os dois retratos apresentam uma leitura muito particular dos eventos mais radicais da política dos últimos quatro anos, feita a partir de São Paulo: a crise de certa esquerda que se tornou conservadora na esteira das grandes manifestações de 2013, a ascensão do bolsonarismo nas periferias, o aprofundamento do fascismo no Brasil, a greve de caminhoneiros de 2018, as lutas de trabalhadores durante o período de mais intenso isolamento social por força da pandemia de COVID-19, o #brequedosapps dos motoboys e entregadores, as lutas dos trabalhadores do telemarketing e call centers, as lutas em torno das medidas de proteção sanitária de trabalhadores e comunidades inteiras, os fracos resultados da avalanche de greves dos anos 2010... está tudo nos dois ensaios do livro.

Pessoalmente, tenho certas ressalvas quanto aos óculos cebrapianos com que a "militância na neblina" lê a realidade. Não me agrada, de igual modo, certas emulações do estilo ensaístico de Paulo Eduardo Arantes -- não porque seu estilo único seja mau, mas precisamente por ser único, quase idiossincrático, algo entre literatura e filosofia, possível somente a quem transita por gama muito maior de estilos e competências que os redatores dos ensaios. Algum dia ainda sistematizarei essas e outras críticas para estabelecer um diálogo com os autores, mas por enquanto a exploração nossa de cada dia me impede.

Apesar de minhas ressalvas personalíssimas, recomendo fortemente a leitura deste livro a quem pretenda entender o que se passou na politica brasileira nos últimos quatro anos por fora das intrigas palacianas, das picuinhas de redes sociais e da algaravia da imprensa.