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reviewed The monk by Matthew Gregory Lewis (Oxford World's classics)

`The Monk was so highly popular that it seemed to create an epoch in our …

Review of 'The monk' on 'Goodreads'

4 stars

Matthew Gregory Lewis nasceu em Londres, a 9 de Julho de 1775. Os seus pais separam-se quando tinha apenas 6 anos, acontecimento que marcou indelevelmente a sua vida; o talento para a escrita e a vontade em auxiliar financeiramente a sua mãe leva Lewis a traduzir poesia, peças de teatro e a escrever os seus próprios textos enquanto que o desejo de agradar o pai, que ambicionava uma carreira diplomática para o filho, induz o jovem autor a concluir os seus estudos em Oxford e a viajar pela Europa.
Em 1791, numa carta para a sua mãe, revela que se encontra a trabalhar num romance “ao estilo de O Castelo de Otranto”. Acaba, no entanto, por desistir da obra até 1794, ano em que a publicação de Os Mistérios de Udolpho de Ann Radcliffe, que Lewis considerou como “um dos mais interessantes livros jamais publicados”, o incentivou a prosseguir a sua escrita. Incapaz de terminar a história que tinha desenvolvido, e de modo a combater o aborrecimento inerente ao cargo que passou a ocupar na embaixada britânica na Holanda, Lewis resolve principiar um novo romance; em cerca de dez semanas escreve O Monge, terminando assim a obra que o iria tornar famoso com apenas 19 anos.
Após regressar a Londres, Lewis encontra sem grandes dificuldades um editor para o seu romance, sendo a primeira edição de O Monge publicada em Março de 1796.

“(...) The Monk is a romance, which if a parent saw in the hands of a son or daughter, he might reasonably turn pale.”
(Coleridge, 1797)

O anticatolicismo característico do romance gótico, manifesta-se também em O Monge, algo que, aliado à violência explícita nele descrita, causou uma enorme polémica, especialmente entre os críticos mais conservadores que catalogaram a obra como imoral e acusaram o autor de blasfémia. Tais acusações acabariam por resultar num processo em tribunal, o que obrigou Lewis a reeditar o seu trabalho, censurando algumas passagens. Apesar disso, nenhum crítico negou o génio de Lewis, e a recepção do público foi favorável, tendo sido publicadas cinco edições de O Monge até ao final do séc. XVIII.

“He is now thirty years old, every hour of which period has been passed in study, total seclusion from the world, and mortification of the flesh. Till these last three weeks, when He was chosen superior of the Society to which He belongs, He had never been on the outside of the Abbey-walls: Even now He never quits them except on Thursdays, when He delivers a discourse in this Cathedral which all Madrid assembles to hear. His knowledge is said to be the most profound, his eloquence the most persuasive. In the whole course of his life He has never been known to transgress a single rule of his order; The smallest stain is not to be discovered upon his character; and He is reported to be so strict an observer of Chastity, that He knows not in what consists the difference of Man and Woman. The common People therefore esteem him to be a Saint.”

O enredo de O Monge divide-se em duas histórias que se vão alternando e cujos pontos de contacto se tornam evidentes à medida que nos aproximamos da sua conclusão. A história principal diz respeito ao monge Ambrosio, apresentado como um exemplo de virtude, figura admirada pela sua conduta irrepreensível e pelo seu conhecimento. Isolado da sociedade e dos seus vícios, Ambrosio coloca uma excessiva confiança na sua virtude, iludindo-se ao ponto de acreditar que as paixões que dominam o ser humano não têm qualquer poder sobre si. Cedo se torna evidente que foi o seu isolamento que permitiu ao monge reprimir essas paixões. Quando o seu estimado noviço revela ser, na verdade, uma mulher de nome Matilda, levada pelo seu amor ao monge a disfarçar-se de modo a poder permanecer a seu lado, Ambrosio é exposto pela primeira vez à tentação.

“’Either your hand guides me to Paradise, or my own dooms me to perdition! Speak to me, Ambrosio! Tell me that you will conceal my story, that I shall remain your Friend and your Companion, or this poignard drinks my blood!’
As She uttered these last words, She lifted her arm, and made a motion as if to stab herself. The Friar’s eyes followed with dread the course of the dagger. She had torn open her habit, and her bosom was half exposed. The weapon’s point rested upon her left breast: And Oh! That was such a breast! The Moon-beams darting full upon it, enabled the Monk to observe its dazzling whiteness. His eye dwelt with insatiable avidity upon the beauteous Orb. A sensation till then unknown filled his heart with a mixture of anxiety and delight: A raging fire shot through every limb; The blood boiled in his veins, and a thousand wild wishes bewildered his imagination.
‘Hold!’ He cried in a hurried faultering voice; ‘I can resist no longer! Stay, then, Enchantress; Stay for my destruction!’”

Seduzido por Matilda, Ambrosio quebra os seus votos e desperta assim o apetite sexual que será responsável pela sua ruína moral, algo que o seu orgulho não lhe permite admitir. A sua queda torna-se inevitável devido à natureza dos seus desejos; apenas a pureza incita o seu apetite, só a beleza e a virgindade são capazes de o saciar. Satisfeito esse apetite, o seu objecto perde o encanto. É o que acontece com Matilda: desprovida da virgindade que a tornava tão atractiva aos olhos do monge, torna-se num espelho dos seus pecados, desvanecendo-se todo o seu interesse por ela. Assim, os desejos do monge direccionam-se para Antonia. Matilda, que demonstra ter conhecimentos de magia negra, convence o relutante Ambrosio a aceitar a sua ajuda sobrenatural, conseguindo graças a isso infiltrar-se na casa de Antonia. Apesar disso os seus planos não correm como esperado, e acaba por assassinar Elvira, mãe de Antonia. Recorrendo de novo ao auxílio de Matilda, consegue forjar a morte de Antonia e deslocá-la para uma cripta onde finalmente concretiza os seus intentos, violando a jovem rapariga.

“For a time spare diet, frequent watching, and severe penance cooled and represt the natural warmth of his constitution: But no sooner did opportunity present itself, no sooner did He catch a glimpse of joys to which He was still a Stranger, than Religion’s barriers were to feeble to resist the over-whelming torrent of his desires. All impediments yielded before the force of his temperament, warm, sanguine, and voluptuous in the excess. As yet his other passions lay dormant; But they only needed to be once awakened, to display themselves with violence as great and irresistible.”

Para além da corrupção dos valores morais de Ambrósio, acompanhamos a história de amor de Raymond e Agnes. Contra a sua vontade, Agnes está destinada a viver num convento, e as suas tentativas para escapar aos desígnios familiares revelam-se infrutíferas, apesar do auxílio de Raymond. Este reencontra-a em Madrid e, sob disfarce, consegue infiltrar-se no convento, onde, num dos seus encontros, o casal cede à tentação e Agnes engravida. Tal situação torna-se do conhecimento da abadessa, que decide punir impiedosamente Agnes, encenando a sua morte e aprisionando-a. Lorenzo, irmão de Agnes, desconhecendo a situação da sua irmã, tenta prender a abadessa durante uma procissão, acusando-a de assassinato. A multidão revolta-se perante tamanha crueldade, o que resulta na morte da abadessa e de várias freiras inocentes, assim como na destruição do convento. Durante o caos, Lorenzo descobre não só a sua irmã, mas também a sua amada Antonia, à beira da morte após ter sido apunhalada por Ambrosio. O monge é capturado e interrogado pela inquisição; desesperado, vende a sua alma ao diabo em troca da sua liberdade. Tal sacrifício garante-lhe apenas a revelação de que Elvira era sua mãe e Antonia sua irmã, para além de uma horrível morte.

“Universal silence prevailed through the Crowd, and every heart was filled with reverence for religion. Every heart but Lorenzo’s. Conscious that among those who chaunted the praises of their God so sweetly, there were some who cloaked with devotion the foulest sins, their hymns inspired him with detestation at their Hypocrisy.”

A importância de O Monge no panorama literário deve-se, sobretudo, à quebra de convenções que Lewis efectua no romance. Numa época em que o gótico era dominado pela suavizadora sensibilidade feminina, de que Ann Radcliffe é exemplo, Lewis não se deixa coibir pelas restrições que limitavam os seus precursores, recusando-se a atenuar a violência e a crueldade que as paixões humanas são capazes de desencadear. As típicas heroínas, devotas e virginais, podem ser encontradas em O Monge, mas, ao invés de escaparem das garras do vilão, perecem nas mãos deste. A intervenção divina que se manifesta em favor dos virtuosos, é substituída pela influência demoníaca que incita à corrupção. No fundo, Lewis adopta as convenções do género até determinado ponto, a partir do qual as inverte. Tal inversão, conjugada com as fortes descrições dos crimes perpetrados por Ambrosio, não poderia deixar de chocar os leitores da época.
O talento de Lewis como dramaturgo transparece também em O Monge, tanto pelas cenas curtas e dramáticas, muitas vezes associadas a sonhos ou circunstâncias sobrenaturais, desafiando constantemente as crenças do leitor, chocando-o com a exposição das falhas a que qualquer ser humano é susceptível. Também a nível de diálogo é evidente esta influência, levando por vezes a uma linguagem excessivamente teatral, adequada para um actor a representar num palco perante uma plateia, mas pouco verosímil quando aplicada a um romance. De resto, o autor opta quase sempre pelo espectáculo em detrimento da coerência do romance; a crítica à superstição é disso exemplo: por um lado, várias personagens consideram a superstição como o produto de uma mente fraca, enquanto que por outro, o sobrenatural se manifesta sem que exista uma explicação racional para o desmistificar, pelo que a referida crítica não só carece de suporte, como é contrariada pelos acontecimentos.
Independentemente dos seus exageros, compreensíveis tomando em conta a idade que o autor tinha quando finalizou o romance, O Monge é um inquietante retrato dos excessos que o ser humano comete quando dominado pelas suas paixões, e de como esses excessos muitas vezes são encobertos por uma enganadora aparência de virtude. Um importante marco da literatura gótica que influenciou significativamente a produção literária dentro do género.

Edições:

The Monk encontra-se disponível integralmente no Project Gutenberg. A nível de versões impressas, tanto a edição da Oxford University Press como a edição da Penguin proporcionam uma interessante introdução, assim como notas explicativas. O romance encontra-se também traduzido para português, sendo as versões mais recentes editadas pela Bonecos Rebeldes e pela Modo de Ler Editores e Livreiros.

Referências:

Birkhead, Edith. The Tale of Terror . Project Gutenberg, 2004. www.gutenberg.org/ebooks/14154

Bomarito
, Jessica. Gothic Literature: A Gale Critical Companion. Detroit: Thomson/Gale, 2006.

Botting, Fred. Gothic. Londres: Routledge, 1996.

Coleridge, Samuel Taylor. “A review of The Monk.”The Critical Review 19. 1797.

Lewis, Matthew. The Monk. Nova Iorque: Oxford University Press, 2008.

Punter, David; Byron, Glennis. The Gothic. Oxford: Blackwell Publishing, 2004.

Smith, Andrew. Gothic Literature. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2007.

Sousa, Maria Leonor Machado. A Literatura “Negra” ou de Terror em Portugal (séculos XVIII e XIX). Lisboa: Editorial Novaera, 1978.

Summers, Montague. “Matthew Gregory Lewis.” The Gothic Quest. Nova Iorque: Russell & Russell, 1964.

Wright, Angela. “European Disruptions of the Idealized Woman: Matthew Lewis’s The Monk and the Marquis de Sade’s La Nouvelle Justine.” European Gothic: A Spirited Exchange, 1760-1960. Manchester: Manchester University Press, 2002.