Back
John William Polidori: The vampyre, and other tales of the macabre (2008, Oxford University Press) 4 stars

Review of 'The vampyre, and other tales of the macabre' on 'Goodreads'

4 stars

Este artigo revela uma parte considerável do enredo da obra.

John William Polidori nasceu em Londres a 7 de Setembro de 1795, filho do escritor e tradutor Gaetano Polidori (responsável pela tradução de Paradise Lost e The Castle of Otranto para italiano) e de Anna Maria Pierce. Em 1804 inicia a sua educação no Ampleforth College em Yorkshire, e em 1811 ingressa na Universidade de Edinburgo, conseguindo o seu doutoramento em medicina com apenas 19 anos.
Em 1816, através de uma recomendação de Sir William Knighton, Lord Byron contrata Polidori para o acompanhar nas suas viagens pela Europa como seu médico pessoal. Durante o Verão do mesmo ano instalam-se na Suiça, onde Byron é frequentemente visitado por Jane Clairmont, Percy Bysshe Shelley e Mary Wollstonecraft Godwin, todos eles presentes na famosa competição realizada numa noite de Junho em que, após uma sessão de leitura de histórias de fantasmas, Byron desafiou cada um a escrever uma história dentro do género. A competição inspirou Mary Godwin, que começou a escrever uma das mais influentes obras da literatura gótica: Frankenstein; Byron cedo perdeu o interesse, limitando-se a escrever parcialmente um conto intitulado Augustus Darvell; Polidori dedicou-se a Ernestus Berchtold; or, The Modern Oedipus - o único romance que viria a publicar - e, posteriormente, desenvolveu o conceito presente no fragmento de Byron, dando origem a The Vampyre.
Em 1819, Henry Colburn, procurando tirar partido da fama do poeta Inglês, publica The Vampyre na New Monthly Magazine com o subtítulo "A Tale by Lord Byron". Pouco tempo após a publicação, Polidori reclama a autoria da obra, muito embora reconheça a importância que Byron teve na sua constituição. A forma como o manuscrito chegou aos escritórios da New Monthly permanece um mistério, mas é facto que The Vampyre se tornou rapidamente num grande sucesso.

"It happened that in the midst of the dissipations attendant upon London winter, there appeared at the various parties of the leaders of the ton a nobleman more remarkable for his singularities, than his rank. He gazed upon the mirth around him, as if he could not participate therein. Apparently, the light laughter of the fair only attracted his attention, that he might by a look quell it and throw fear into those breasts where thoughtlessness reigned. Those who felt this sensation of awe, could not explain whence it arose: some attributed it to the dead grey eye, which, fixing upon the object's face, did not seem to penetrate, and at one glance to pierce through to the inward workings of the heart; but fell upon the cheek with a leaden ray that weighed upon the skin it could not pass."

The Vampyre destaca-se, essencialmente, por transportar o vampiro para o ambiente urbano. Até à data, tanto no folclore como na literatura, o vampiro era uma figura repugnante, subsistindo à base do instinto de modo a satisfazer a sua necessidade por sangue. Em contraste, a criação de Polidori – Lord Ruthven –, é uma personagem sofisticada e atraente, que se desloca pela alta sociedade inglesa sem levantar quaisquer suspeitas enquanto escolhe as suas vítimas. É esta ameaça latente, esta diluição da fronteira entre o natural e o sobrenatural, que torna Ruthven numa figura aterrorizadora de uma forma que os seus antecessores nunca conseguiram atingir.
O conto inicia-se apresentando o jovem e inexperiente Aubrey, que acredita que "os sonhos dos poetas são as realidades da vida," mas que cedo percebe, apesar da sua ingenuidade, que a vida social se distancia bastante do que se pode ler nos romances. Quebrada a ilusão, Aubrey fica intrigado com o misterioso mas fascinante Ruthven, e decide aproximar-se deste com a intenção de estudar a sua estranha personalidade. Eventualmente organizam uma viagem em conjunto, e é durante essa viagem que Aubrey detecta alguns sinais alarmantes no que toca à conduta do seu companheiro.

"His companion was profuse in his liberality; -- the idle, the vagabond, and the beggar, received from his hand more than enough to relieve their immediate wants. But Aubrey could not avoid remarking, that it was not upon the virtuous, reduced to indigence by the misfortunes attendant even upon virtue, that he bestowed his alms; -- these were sent from the door with hardly suppressed sneers; but when the profligate came to ask something, not to relieve his wants, but to allow him to wallow in his lust, to sink him still deeper in his iniquity, he was sent away with rich charity. This was, however, attributed by him to the greater importunity of the vicious, which generally prevails over the retiring bashfulness of the virtuous indigent. There was one circumstance about the charity of his Lordship, which was still more impressed upon his mind: all those upon whom it was bestowed, inevitably found that there was a curse upon it, for they were all either led to the scaffold, or sunk to the lowest and the most abject misery."

Estas situações inquietam Aubrey, mas só quando recebe uma carta dos seus pais a alertar para a comportamento imoral e para a capacidade de sedução de Ruthven, é que decide abrir mão da sua amizade, decidido a não viajar com alguém “cujo carácter não tinha mostrado um único ponto brilhante.”
Após esta quebra de relações, prossegue sozinho para a Grécia, onde durante algum tempo explora as ruínas de Atenas e se apega à bela Ianthe, filha dos donos da casa onde tomou residência. Ironicamente, Ianthe tenta convencer o céptico Aubrey da existência de vampiros, acabando por perecer nas mãos de um. Perturbado pelo sucedido, Aubrey adoece e, para sua surpresa, ao acordar do seu sono febril encontra Ruthven a cuidar de si.

"His lordship seemed quite changed; he no longer appeared that apathetic being who had so astonished Aubrey; but as soon as his convalescence began to be rapid, he again gradually retired into the same state of mind, and Aubrey perceived no difference from the former man, except that at times he was surprised to meet his gaze fixed intently upon him, with a smile of malicious exultation playing upon his lips: he knew not why, but this smile haunted him."

O inesperado acto leva a uma reconciliação, e os dois companheiros retomam a sua viagem durante a qual se tornam vítimas de uma emboscada. Durante o ataque Ruthven é ferido e acaba, aparentemente, por morrer, embora não sem antes obrigar Aubrey a jurar que ocultaria qualquer pormenor acerca dos seus crimes durante um ano e um dia. Decidido a não permanecer num país que só lhe trouxe infortúnios, e após descobrir que o amigo fora o responsável pela morte da encantadora Ianthe, Aubrey regressa a Inglaterra.
Gradualmente consegue abtrair-se do seu passado recente até uma noite em que, para seu choque, reencontra Ruthven. Tal acontecimento coloca-o num estado de histeria tal que a família se vê obrigada a confiná-lo ao seu quarto, com supervisão de um médico. O seu estado acaba por piorar ao se aperceber que a sua irmã está noiva de Ruthven, estando o casamento previsto exactamente para último dia do seu juramento. Incapaz de evitar que a sua irmã se torne em mais uma das vítimas do dissimulado vampiro, o seu desespero resulta no rompimento de um vaso sanguíneo, dando-lhe apenas tempo para relatar a sua história, revelando, finalmente, a verdadeira natureza de Lord Ruthven.

"He shut his eyes, hoping that it was but a vision arising from his disturbed imagination; but he again saw the same form, when he unclosed them, stretched by his side. There was no colour upon her cheek, not even upon her lip; yet there was a stillness about her face that seemed almost as attaching as the life that once dwelt there: -- upon her neck and breast was blood, and upon her throat were the marks of teeth having opened the vein: -- to this the men pointed, crying, simultaneously struck with horror, «A Vampyre! a Vampyre!»"

The Vampyre é importante não só por trazer o vampiro para a esfera aristocrática, mas também por ilustrar um período de transição na literatura gótica, em que os medos, que antes ganhavam forma nos oprimentes castelos ou mosteiros, passaram a ser incorporados por monstros. De facto, o persuasivo Ruthven encarna o receio que a nobreza tinha por homens elegantes e sem escrúpulos, capazes de atrair e desonrar as suas filhas, arruinando-as a nível moral e social. É também aterrorizador no sentido em que consegue subverter as normas sexuais, usando isso a seu favor para exercer um forte domínio tanto sobre as mulheres como sobre os homens.
Por outro lado, Polidori não adopta a típica estrutura utilizada na grande maioria dos romances góticos produzidos até à data, algo especialmente evidente no casamento que se realiza no final do conto, casamento esse que, ao invés de representar uma fase de libertação do mal que assombrou a história, representa, isso sim, a libertação e o triunfo desse próprio mal.
Independentemente da influência de Byron, que levou muitos a acusar Polidori de plágio, a verdade é que este último transformou um fragmento inacabado numa história coesa, estabelecendo um modelo que viria desenvolvido por James Rymer em Varney the Vampire, por Sheridan Le Fanu em Carmilla e, acima de tudo, por Bram Stoker em Dracula. É, pois, imerecidamente que este autor permanece na sombra, quando a sua contribuição, embora curta, se ramificou até aos nossos dias.

Referências:

Birkhead, Edith. The Tale of Terror . Project Gutenberg, 2004. www.gutenberg.org/ebooks/14154

Bomarito
, Jessica. Gothic Literature: A Gale Critical Companion. Detroit: Thomson/Gale, 2006.

Botting, Fred. Gothic. Londres: Routledge, 1996.

Heiland, Donna. Gothic and Gender: An Introduction, Oxford: Blackwell Publishing, 2004.

Polidori, John William. The Vampyre and Other Tales of the Macabre. Nova Iorque: Oxford University Press, 2008.

Nigel Leask, Polidori, John William (1795–1821), Oxford Dictionary of National Biography, Oxford University Press, 2004, www.oxforddnb.com/view/article/22466

Punter
, David; Byron, Glennis. The Gothic. Oxford: Blackwell Publishing, 2004.