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Luiz Marques: O Decênio Decisivo (Paperback, português language, Elefante) 5 stars

O decênio decisivo reúne, com grande rigor científico, uma quantidade imensa de dados que estão …

O que fazer diante do colapso?

4 stars

(original com links → sol2070.in/2024/04/decenio-decisivo-luiz-marques/ )

Em "O Decênio Decisivo" (2023), o historiador Luiz Marques demonstra porque a civilização humana tem até 2030 para reverter radicalmente sua direção autodestrutiva, no contexto da emergência climática e da extinção em massa de espécies. Sem isso, a escalada exponencial do desastre é certa. Também lista as medidas sociopolítico-econômicas necessárias.

É um trabalho rigoroso e preciso de compilação e síntese das melhores pesquisas no mundo, não é uma tese do autor.

Considerando a enormidade da tarefa, o resultado impressiona, ficando em pé de igualdade com os melhores livros de autores do norte global. Também intimida, devido ao inevitável despejo de listas, gráficos e citações de relatórios e cientistas. Apesar de o público-alvo não ser a academia, acabou sendo uma leitura mais acadêmica do que esperava. Mais do que sua obra anterior "Capitalismo e Colapso Ambiental" (2018), focado em demonstrar como a raiz do colapso atual é o dominante sistema de extração de lucros.

Mesmo não sendo leitura fácil, é um livro essencial para quem consegue deixar de ignorar essa ameaça à civilização.

Ignorar, mesmo suspeitando que não há nada mais urgente, é compreensível até. Porque mergulhar fundo nisso pode ser muito deprimente. Pessoalmente, não vejo sinais de que a crise será revertida. Na verdade, eles apontam para um agravamento sistemático. E isso em meio a ameaças interligadas, como a ascensão da extrema-direita.

Seria possível que até 2030, oligarcas, corporações e governos coloquem a mão na cabeça e se deem conta de que precisam parar, mudar tudo e recuar? Dentro do reino das possibilidades, sim, não seria fisicamente impossível. Mas é absolutamente improvável, com chances próximas de zero.

O mais provável é que o colapso continue a se multiplicar exponencialmente, até um ponto limite, em que não fará mais sentido continuar destruindo tudo, ou porque a maior parte já estará arruinada ou porque simplesmente não haverá mais infraestrutura de civilização para isso continuar.

Isso sim é algo 100% radical. Aquilo que costuma ser chamado de “radicalismo” ativista me parece mais bom senso.