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reviewed Estrela da Manhã by Karl Ove Knausgård (Estrela da Manhã, #1)

Karl Ove Knausgård: Estrela da Manhã (português language) 5 stars

Primeiro romance de Karl Ove Knausgård desde a consagrada série autobiográfica Minha Luta, Estrela da …

Alta literatura fantástica

5 stars

( sol2070.in/2024/11/livro-estrela-da-manha-karl-ove-knausgaard/ )

"Estrela da Manhã" (2021, 656 págs.), do norueguês Karl Ove Knausgaard, é o primeiro volume da trilogia conhecida pelo mesmo nome. Capturou-me totalmente, não queria ler ou ver mais nada — geralmente, leio alguma não ficção paralelamente.

A combinação é uma das que mais gosto: uma pessoa consagrada na literatura se aventurando pela ficção especulativa, científica ou fantástica, como por exemplo Kazuo Ishiguro e Doris Lessing, que ganharam o Nobel de literatura e criaram ótima ficção científica.

Karl se consagrou com os seis volumes da série de autoficção "Minha Luta", um fenômeno literário de crítica e público inédito em seu país, traduzido mundo afora, incluindo Brasil.

"Estrela da Manhã" narra em primeira pessoa a rotina de várias pessoas na Noruega, quando uma nova estrela toma conta do céu, prenunciando mudança radical. As personagens são tão cativantes que ficava me perguntando como o autor consegue dar vida assim a pessoas tão diversas entre si, desde uma enfermeira num hospital para demência, passando por um repórter criminal investigando o sumiço de uma banda de death metal, até uma sacerdotisa da Igreja da Noruega.

Esse é o foco da história, a vida interior das pessoas. Apesar da novidade cósmica no cenário, quem esperar apenas elementos fantásticos, pode se decepcionar — como eu no começo. Mesmo assim, eles abundam, e as pessoas são tão interessantes que nada fica faltando.

O tema da série é a morte, e as questões existenciais em torno dela. O feito de Knausgaard é retratar algo tão denso e profundo de forma instigante. Conseguiu escrever praticamente um vira-páginas com as rotinas e inquietações de pessoas comuns (em oposição a personagens heroicas ou supertalentosas), dispensando técnicas de suspense como cliffhangers etc.

Questionamentos espirituais e até teológicos também figuram. Por exemplo, não é acaso que “Estrela da Manhã” é um epíteto de Lúcifer (literalmente, “portador da luz”), o primeiro anjo da mitologia bíblica.

Uma das reflexões que me deixou pensando: geralmente, a morte é considerada como negativa, talvez até algo de que deveríamos nos livrar. Como seria então um mundo sem morte? Plantas, por exemplo, apenas cresceriam, chegando num ponto em que faltaria espaço no mar, terra e ar. Seria um mundo não apenas hostil a qualquer nova vida, ela seria impossível. Assim, biologicamente, a morte é o truque que permite o aparecimento da novidade. Sem ela, a vida como conhecemos seria extinta. Na verdade, esse é o tema central da série.

Já estou lendo o segundo volume: "The Wolves of Eternity" (2023), ainda sem tradução no Brasil.