( sol2070.in/2025/03/livro-a-extincao-das-abelhas/ )

"A Extinção das Abelhas" (2021, 312 pgs.), de Natália Borges Polesso, é uma estória de fim do mundo brasileira.

Acompanhamos as dificuldades externas e internas na vida de Regina, durante um colapso ambiental mais ou menos na época atual, junto com uma explosão de autoritarismo e perseguição a minorias como ela, que é lésbica. Ela foi abandonada pela mãe quando criança e sua história se alterna com a da mãe andarilha.

Seus problemas vão escalando em direção a um colapso mental, paralelos ao colapso externo. É uma estória realista no sentido de não haver muitas resoluções, reconciliação nem tanta esperança. Em certo ponto, só resta fugir e esperar. Talvez o fato de a protagonista não pertencer muito ao mundo tenha lhe ajudado quando ele termina.

Gostei da ambientação no (sul do) Brasil e da voz da protagonista. Mas é um romance distópico diferente, com mais interiorização e menos enredo — isso pode decepcionar quem esperar uma estória mais convencional.

Foi o livro do mês que lemos no clube Contracapa ( forum.contracapa.club/d/22-a-extincao-das-abelhas ) . Muitas pessoas não apreciaram tanto o livro. Fui uma exceção. Em alguns pontos, gostei pelo mesmo motivo que outras desgostaram. Por exemplo, a ausência de resoluções ou conciliação explícita — quebrando expectativas — ou de um enredo mais estimulante. Nisso, o livro é mais realista. Há um mundo ruindo e uma pessoa também despedaçada que vai sobrevivendo do modo como pode, sem nenhum protagonismo ou heroísmo excepcionais.

No clube, pessoas não se identificaram com as fraquezas e vulnerabilidades de Regina. Mas gostei especialmente disso, e de seu lado outsider, que não pertence.

O próximo que leremos é "Não me Abandone Jamais" (2005), de Kazuo Ishiguro.