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Kalevala by Elias Lönnrot
Kalevala é uma epopeia finlandesa que descreve as façanhas e disputas de poderosos heróis míticos como o trágico Kullervo, Väinämöinen, …
"Este mundo grande cansa-me à exaustão o pequeno corpo.". — Pórcia
Sou um leigo que se entrega à filosofia, literatura, história e ciência. Leitor de Philip K. Dick a Platão, ouvinte de Arctic Monkeys a John Coltrane, jogador de Red Dead Redemption a Deus Ex.
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Kalevala é uma epopeia finlandesa que descreve as façanhas e disputas de poderosos heróis míticos como o trágico Kullervo, Väinämöinen, …
O pós-moderno, como condição da cultura nesta era, caracteriza-se exatamente pela incredulidade perante o metadiscurso filosófico-metafísico, com suas pretensões atemporais e universalizantes.
— A condição pós-moderna by Jean-François Lyotard (Page 10)
Prefácio "Tempos pós-modernos" de Wilmar do Valle Barbosa
Obra mais conhecida de Jean-François Lyotard, A condição pós-moderna constrói um arco histórico das transformações estruturais que estende-se entre dois …
Neste suspense macabro que conquistou o Japão, imagens aparentemente simples e inocentes envolvem o leitor em uma rede perturbadora de …
Kalevala é uma epopeia finlandesa que descreve as façanhas e disputas de poderosos heróis míticos como o trágico Kullervo, Väinämöinen, …
Em Como cultivar uma vida de leitura ― coletânea que reúne escritos do abrangente acervo literário de Lewis ― o …
Para apreciar completamente um livro, acho que tenho de tratá-lo como uma espécie de hobby e lê-lo com determinação e entusiasmo. Começo fazendo um mapa em uma das últimas folhas; depois, desenho uma ou duas árvores genealógicas. Em seguida, coloco um título no topo de cada página e, por último, indexo, no final, todas as passagens que por alguma razão sublinhei. Considerando como as pessoas se divertem organizando fotos ou fazendo álbuns de recorte, sempre me questiono o porquê de tão poucas mapearem sua leitura dessa maneira, como um hobby. Acabei gostando de muitos livros chatos que tinha de ler ao lê-los dessa forma — segurando nas mãos uma caneta de ponta fina e fazendo anotações, como se estivesse montando algo. É como se a leitura adquirisse o charme de um brinquedo, mas sem perder o fascínio de um livro.
— Como cultivar uma vida de leitura by C. S. Lewis (Coleção Fundamentos)
É bobagem achar que, ao ler um livro, você nunca pudesse “pular” algumas páginas. Todas as pessoas sensatas têm a liberdade de fazer isso quando chegam a um capítulo que acham que não terá utilidade para elas.
— Como cultivar uma vida de leitura by C. S. Lewis (Coleção Fundamentos)
Por que, afinal, manter-se em dia com o cenário literário contemporâneo? Por que deveríamos ler autores dos quais não gostamos por calharem de estarem vivos ao mesmo tempo que nós? Nesse caso, poderíamos então ler todo e qualquer autor que partilhasse conosco o mesmo trabalho, a mesma cor de cabelo, a mesma renda ou as mesmas dimensões torácicas, até onde vejo.
— Como cultivar uma vida de leitura by C. S. Lewis (Coleção Fundamentos)
Quanto mais “atualizado” o livro for, mais cedo ele será datado.
— Como cultivar uma vida de leitura by C. S. Lewis (Coleção Fundamentos)
Muito (não tudo) de nossa literatura foi feito para ser lido de modo leve, para entretenimento. Em certo sentido, se não a lermos “por diversão” e com os pés voltados para a lareira, não a estamos usando como deveria ser usada, e toda nossa crítica a ela será pura ilusão, pois você não pode julgar nenhum artefato a não ser que o use como foi planejado.
— Como cultivar uma vida de leitura by C. S. Lewis (Coleção Fundamentos)
Há duas formas de usufruir do passado, do mesmo modo como há duas maneiras de usufruir de um país estrangeiro. Um homem leva sua “inglesidade” consigo para o estrangeiro e a traz de volta, inalterada. Por onde quer que vá, associa-se com outros turistas ingleses; por “hotel bom”, quer dizer um estabelecimento que se assemelha a um hotel inglês. O turista desinteressado reclama do chá ruim de um lugar onde poderia ter tomado um café excelente. […] Entretanto, existe uma outra forma de viajar, assim como existe uma outra forma de ler. Você pode apreciar a comida local e o vinho local; pode partilhar da vida estrangeira; pode começar a ver o país estrangeiro conforme ele é, não para o turista, mas para o habitante local. Pode, enfim, voltar para casa transformado, pensando e sentindo de forma como nunca pensara e sentira antes. O mesmo acontece com a literatura. Podemos ir além da primeira impressão causada por um poema à nossa sensibilidade moderna. Estudando elementos extrínsecos ao poema, comparando-o com outros poemas e posicionando-nos no período de sua composição, penetramo-lo com um olhar mais próximo daquele dos nativos — talvez vendo, agora, que as associações que antes dávamos às palavras antigas eram falas; que as verdadeiras implicações são diferentes das que inicialmente supúnhamos; que aquilo que achávamos estranho era comum na época, e o que nos parecia comum era, para os padrões da época, estranho. […] [Parece-me] um desperdício do passado se nos contentarmos apenas em ver, na literatura das épocas que se foram, apenas o reflexo da nossa própria face.
Escrevo a fim de encorajar, se possível, o segundo tipo de leitura. Em parte, claro, por ter uma motivação histórica. Sou tanto ser humano quanto amante da poesia; e, sendo humano, sou inquiridor: quero tanto saber das coisas quanto usufruir delas. Mas ainda que a satisfação fosse o meu único objetivo, mesmo assim escolheria essa abordagem, esperando que ela me levasse a níveis ainda mais novos de satisfação, a coisas que eu jamais experimentaria em meu tempo — formas de sentimento, sabores, jornadas ao passado real. Apesar de já ter convivido comigo e com o meu século por sessenta anos, não sou tão apegado com um e com o outro a ponto de não desejar o vislumbre de um mundo que jaz além de ambos. Da mesma forma como as férias de um turista desinteressado me parecem um desperdício da Europa — pois ele deixa de aproveitar muito mais do que poderia ser explorado — assim também me parece um desperdício do passado se nos contentarmos apenas em ver, na literatura das épocas que se foram, apenas o reflexo da nossa própria face.
— Como cultivar uma vida de leitura by C. S. Lewis (Coleção Fundamentos)
A verdadeira história de cada país está repleta de coisas deploráveis e até mesmo vergonhosas. Se as histórias heroicas forem tomadas como típicas, darão uma falsa impressão de si mesmas e estarão, com frequência, sujeitas à crítica histórica. Assim, o patriotismo que se baseia em nosso passado glorioso será campo fértil para os detratores. À medida que o conhecimento cresce, é possível que “a ficha caia” e que seja adotada uma postura de cínico desencantamento, ou que se prefira “fechar os olhos” para a verdade. No entanto, quem condenará aquilo que claramente faz com que as pessoas, em muitos momentos importantes, se comportem bem melhor do que se comportariam sem essa ajuda da história? Entendo que é possível obter força a partir da imagem do passado sem, contudo, se deixar enganar ou se tornar arrogante. A imagem se torna perigosa na mesma proporção em que é confundida com ou substituída pelo estudo histórico sistemático. As histórias têm seu ponto alto quando são passadas adiante e recebidas como histórias. Não digo com isso que devam ser passadas adiante como mera ficção (algumas delas são mesmo verdadeiras), mas o destaque deve estar no relato em si, na figura que desperta a imaginação, no exemplo que fortalece a vontade. O estudante que as ouve — embora, é claro, não possa colocar isso em palavras — deveria de modo tênue sentir como se estivesse escutando uma saga. Que fique ele empolgado — preferencialmente “fora da escola” — com os “feitos que conquistaram o Império”, mas quanto menos nós misturarmos isso com suas “lições de história” ou confundirmos com uma análise séria — ou, pior ainda, com uma justificativa — da política imperial, melhor será.
— Como cultivar uma vida de leitura by C. S. Lewis (Coleção Fundamentos)
Verbicídio, o assassinato de uma palavra, acontece de muitas maneiras. Inflação linguística é uma das mais comuns: aqueles que nos ensinaram a dizer “terrivelmente” em lugar de “muito”, “tremendo” em vez de “grande”, “sadismo” em vez de “crueldade” e “impensável” como substituto de “indesejável” eram verbicidas. Outra forma é a verbosidade, isto é, o uso de uma palavra como promessa de pagamento que nunca será cumprida. A maior causa de verbicídio é o fato de que, obviamente, a maioria das pessoas anseia muito mais expressar sua aprovação ou desaprovação das coisas do que descrevê-las.
O uso de “significativo” como algo absoluto, sem qualquer intenção de nos dizer que coisa é significativa, é um exemplo. O mesmo se dá com o termo “diametricamente”, quando usado apenas com o objetivo de colocar no superlativo a palavra “oposto”. Pessoas normalmente cometem verbicídio quando roubam uma palavra de seu contexto original e aplicam-na como slogan que define um partido, apropriando-se de sua “qualidade marqueteira”. Cometeu-se verbicídio quando houve a troca de Whig[ 27 ] por “Liberal” e de Tory[ 28 ] por “Conservador”. Mas a maior causa de verbicídio é o fato de que, obviamente, a maioria das pessoas anseia muito mais expressar sua aprovação ou desaprovação das coisas do que descrevê-las. Daí a tendência de palavras tornarem-se menos descritivas e mais avaliativas; em seguida, menos avaliativas, mas retendo ainda certa sugestão de bondade e maldade; e, por fim, culminando em designações puramente avaliativas — sinônimos inúteis de bem e mal.[...] Não estou sugerindo que, por um purismo arcaico, sejamos capazes de reparar algumas das perdas que já ocorreram. No entanto, pode não ser totalmente inútil a autorresolução de que nós mesmos nunca cometeremos verbicídio. Se a crítica moderna parece ter iniciado um processo cuja culminação resultará em adolescente e contemporâneo virarem, respectivamente, meros sinônimos de mau e bom — e coisas mais estranhas do que essas têm acontecido — devemos bani-los do nosso vocabulário. Sou tentado a adaptar o couplet que lemos em alguns parques:[ 29 ]
Que ninguém diga, e para a tua vergonha o diga Que sentido havia aqui, antes da tua vinda.
— Como cultivar uma vida de leitura by C. S. Lewis (Coleção Fundamentos)
Cada época tem um ponto de vista próprio. Cada uma é especialmente boa em enxergar certas verdades e suscetível a cometer certos erros. Todos nós, portanto, precisamos de livros que corrijam os erros característicos de nosso próprio tempo. E isso significa livros antigos. Todos os escritores contemporâneos compartilham, em certa medida, a perspectiva contemporânea — mesmo aqueles que, como eu, mais parecem se opor a ela. Quando leio as controvérsias de tempos passados, nada me impressiona mais do que o fato de que ambos os lados costumam considerar como ponto pacífico muitas coisas que agora negaríamos completamente. Eles acreditavam estar na posição mais oposta possível um do outro, sendo que, na realidade, estavam o tempo todo secretamente unidos — unidos entre si e contra épocas anteriores e posteriores — por um grande conjunto de pressuposições em comum. Podemos ter certeza de que a cegueira característica do século XX — a cegueira acerca da qual a posteridade perguntará: “Mas como eles poderiam ter pensado aquilo?” — reside onde nunca suspeitamos e refere-se a algo a respeito do qual Hitler e o presidente Roosevelt[ 21 ] ou H. G. Wells e Karl Barth concordam pacificamente. Nenhum de nós pode escapar totalmente dessa cegueira; todavia, sem dúvida a aumentamos, bem como enfraquecemos nossas defesas contra ela quando nos limitamos a ler livros modernos. Quando são verdadeiros, os livros modernos oferecem-nos verdades que já conhecíamos parcialmente. Quando são falsos, agravam o erro pelo qual já fomos perigosamente acometidos. O único paliativo é manter a brisa marítima pura dos séculos soprando em nossa mente, e isto só pode ser feito mediante a leitura de livros antigos. Não, é claro, que exista algum tipo de mágica inerente ao passado. As pessoas não eram mais inteligentes do que hoje; elas cometiam tantos erros quanto nós. Mas não os mesmos erros. Elas não encorajam os erros que cometemos; e seus erros, agora expostos e palpáveis, não nos oferecem risco. Duas cabeças pensam melhor do que uma — não porque são infalíveis, mas porque é improvável que sigam pela mesma direção errada. Sem dúvida, os livros do futuro seriam corretivos tão bons quanto os livros do passado, mas infelizmente não temos acesso a eles.
— Como cultivar uma vida de leitura by C. S. Lewis (Coleção Fundamentos)