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Primo Levi: Os afogados e os sobreviventes (Paperback, português language, 2016, Paz e Terra) 5 stars

Primo Levi retoma sua reflexão sobre o campo de extermínio nazista 40 anos depois de …

"Não se deve esquecer que esta é uma guerra sem fim"

4 stars

"Os afogados e os sobreviventes" é o último livro escrito por Primo Levi antes de sua morte em 1987. Para aqueles que não ouviram falar de Primo Levi, julgo que poucos, ele foi um químico italiano e judeu, prisioneiro de Auschwitz em 1944 e sobrevivente. Levi escreveu extensivamente sobre sua "experiência" nos Lager nazistas, sendo sua primeira obra "É isto um homem?".

Neste livro, Levi faz mais uma reminiscência sobre a natureza humana e os horrores do Holocausto, focando em assuntos como memória, comunicação, violência e estereótipos.

Há pouco que eu possa explorar sobre o assunto nazismo sendo uma pessoa leiga, mas o livro de Levi me fez pensar sobre certos tópicos. Em especial, uma citação ressoou pessoalmente: "É dever do homem justo declarar a guerra a todo privilégio não merecido, mas não se deve esquecer que esta é uma guerra sem fim."

Tenho, até agora, uma orientação anarquista, que, assim como muitos posicionamentos nossos durante a vida, podem ser mudados. Os anarquistas acreditamos em um mundo (completamente) sem privilégios; ultimamente, tenho começado a me perguntar se isso seria de fato possível, em um mundo com contradições reais.

Mais de uma vez, Levi faz comparações entre nazismo e o que chama de stalinismo, as quais não sei se concordo plenamente. Há poucas aproximações que podem ser feitas sem perder o norte da análise: o caráter genocida do nazismo. Inclusive essa é uma das minhas maiores discordâncias com Levi: que, de alguma forma, os gulags soviéticos serviram de inspiração para os Lager – é mais provável que as leis Jim Crow dos EUA os tenham sido, mas para os americanos não houve espaço nas análises de Levi, uma pena.

Enfim, longe de mim querer dizer o que um sobrevivente do Holocausto deve ou não acreditar. O que achei curioso é que os levantamentos anti-soviéticos de Levi me levaram na verdade a ter mais curiosidade sobre história soviética e sobre as experiências do socialismo real, com seus erros e acertos. Provavelmente lerei Lênin em breve para refletir mais sobre o assunto.

No mais, um livro altamente filosófico e de simples leitura, ainda que de conteúdo bem pesado, assim como tudo que tange o nazismo. Vale bastante a pena a leitura.

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Comentário que estou anotando depois de ter escrito a resenha: aparentemente posso ter entendido errado algumas comparações entre nazismo, stalinismo, Lager e gulag. Notavelmente, em seu verbete da Wikipedia em inglês, Levi é lembrado como quem se opôs à ideia de que são de alguma forma equivalentes. Preciso reler os trechos para reavaliar.

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@bismuto "Os anarquistas acreditamos em um mundo (completamente) sem privilégios; ultimamente, tenho começado a me perguntar se isso seria de fato possível, em um mundo com contradições reais."

Sabe uma leitura enriquecedora sobre isso? "O Despertar de Tudo", de D. Graeber. velhaestante.com.br/book/24079/s/o-despertar-de-tudo É um tijolo que traz uma overdose de informação. Ou seja, não é fácil. Mas um dos temas centrais é que sociedades complexas e enormes do passado chegaram bem perto do ideal anarquista. Anarquismo não era coisa só de bandos ou tribos pequenas. Se isso foi possível no passado -- mesmo com dinâmicas sociais complexas como agricultura, administração pública e mercados -- por que não seria possível novamente? Um objetivo principal do livro é desfazer o mito de que a desigualdade e a hierarquia são males necessários no progresso de uma sociedade.

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@sol2070 não penso na dificuldade de uma sociedade sem privilégios pelo progresso, mas sim pelo estado generalizado de desigualdade do qual pode ser difícil fazer surgir uma sociedade verdadeiramente justa. Pelo menos a tempo de não ver o colapso da humanidade como conhecemos. Mas com certeza aceito a indicação, vou adicionar à lista de leituras para o futuro! Obrigada!

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@bismuto Verdade, não teria como uma sociedade sem desigualdade surgir de uma desigual. Mas gradualmente acho que seria possível. Por exemplo, na Europa já houve vários experimentos com assembleias de consenso, para a decisão de questões nacionais como políticas ambientais ou sobre aborto etc. Essas assembleias são muito próximas do modo anarquista de fazer política, baseado em consenso, não em voto. Os governos que apoiaram isso são social-democratas, com menos desigualdade. Então, uma abordagem não revolucionária seria essa, emplacar cada vez mais governos verdes ou social-democratas, que são mais abertos à decentralização, que no final leva ao anarquismo. Tem a via revolucionária também. Outra possibilidade inegável é a de um colapso mais generalizado, em que modelos anarquistas possam emergir depois. Na verdade, pra mim anarquismo é mais como um ideal ou utopia de sociedade. Mesmo que seja algo muito distante da realidade, vale a pena não perder essa possibilidade de …