E ah, detalhe, a leitura não é demorada, eu demorei porque fiquei sem pegar o livro por semanas tentando resolver pendências pessoais.
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Parecia mais legal nas minhas memórias (sem trocadilhos)
3 stars
Se eu não me engano, Memórias de um Sargento de Milícias (que eu insisto em chamar de Memórias Póstumas de um Sargento de Milícias na minha cabeça, admito) foi um dos livros da lista da Fuvest no meu ano de ingresso (aliás, Memórias Póstumas de Brás Cubas também).
Eu não li o livro na ocasião (admito), mas lembro de uma ou outra coisa das aulas de literatura para o vestibular e na minha cabeça, o livro era mais engraçado e divertido.
A primeira parte do livro fica descrevendo as traquinagens do Leonardinho, o personagem principal, que desde pequeno só quer saber de travessura e vadiagem. Essa parte é particularmente enfadonha, na minha opinião. Depois, passa a descrever a vida jovem-adulta de Leonardinho, que continua a se meter em vadiagem e adora um rabo de saia. Essa parte fica mais interessante e você começa a ansiar pelo desfecho. A questão é …
Se eu não me engano, Memórias de um Sargento de Milícias (que eu insisto em chamar de Memórias Póstumas de um Sargento de Milícias na minha cabeça, admito) foi um dos livros da lista da Fuvest no meu ano de ingresso (aliás, Memórias Póstumas de Brás Cubas também).
Eu não li o livro na ocasião (admito), mas lembro de uma ou outra coisa das aulas de literatura para o vestibular e na minha cabeça, o livro era mais engraçado e divertido.
A primeira parte do livro fica descrevendo as traquinagens do Leonardinho, o personagem principal, que desde pequeno só quer saber de travessura e vadiagem. Essa parte é particularmente enfadonha, na minha opinião. Depois, passa a descrever a vida jovem-adulta de Leonardinho, que continua a se meter em vadiagem e adora um rabo de saia. Essa parte fica mais interessante e você começa a ansiar pelo desfecho. A questão é que o desfecho ocorre "du neida", como dizem os jovens, de maneira atropelada, e... bom, é um livro de 1853, não conta como spoiler: tudo acaba bem, apesar de tudo indicar que ia ser uma tragédia após a outra. O fim foi muito frustrante!
Mesmo assim, esse livro tem seu valor histórico na literatura brasileira por ser lançado em meio ao romantismo, mas não ser exatamente romântico; por ser um romance, mas não um romance como os outros; pelo personagem principal ser um anti-herói que acaba se redimindo (anti-heróis eram pouco comuns então). Sem falar que, em uma época que se focava mais nas classes abastadas na literatura, Almeida resolve falar do populacho, usando linguagem do populacho. Portanto, vou dar meu braço a torcer de que a leitura foi importante nesse sentido.
Mas em termos de roteiro? Nah.
Marte reviewed A Vida Privada das Árvores by Alejandro Zambra
A vida privada de Julián
4 stars
A vida privada das árvores é, na verdade, menos sobre árvores e mais sobre Julián, um professor universitário chileno que está desvendando questões sobre sua vida. O enredo é como uma crônica, e se passa no apartamento de Julián enquanto esse cuida de Daniela, sua enteada, enquanto sua mãe Verónica não chega em casa. A partir desse fato -- Verónica ainda não chegou em casa e está atrasada -- Julián confabula milhares de cenários passados e futuros, incluindo a possibilidade de Verónica não voltar mais. O final é bastante aberto, e isso não me deixou muuuuito feliz, mas foi uma leitura agradável e particularmente rápida, perfeita para um domingo nublado.
Marte started reading Memórias de um Sargento de Milícias by Manuel Antônio de Almeida

Memórias de um Sargento de Milícias by Manuel Antônio de Almeida
Com um único romance que escreveu aos 21 anos, Memórias de um Sargento de Milícias, Manuel Antônio de Almeida conquistou …
Marte finished reading A Vida Privada das Árvores by Alejandro Zambra
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A Vida Privada das Árvores by Alejandro Zambra
Segundo livro do escritor chileno Alejandro Zambra, 'A vida privada das árvores' é a história de uma espera. Julián, um …
Marte replied to new liver, same eagles (hugu)'s status
@[email protected] Pior que não! Mas as árvores têm um papel especial nessa história :)
Marte started reading A Vida Privada das Árvores by Alejandro Zambra
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A Vida Privada das Árvores by Alejandro Zambra
Segundo livro do escritor chileno Alejandro Zambra, 'A vida privada das árvores' é a história de uma espera. Julián, um …
Marte reviewed What about Me? by Paul Verhaeghe
Comecei amando esse livro. Aí nos 20% finais, o autor estragou tudo
4 stars
Ponderei por um tempo qual nota daria para esse livro, e durante a leitura minha nota foi de 4 para 5, de 5 para 4 e de 4 para 3, só de raiva. Mas vou manter o 4, e explico o porquê.
Verhaeghe, o autor, é um psicanalista belga. Peguei essa dica de leitura lendo Pussy Riot, o último livro que resenhei aqui. O título me chamou atenção, e Nadya citou Verhaeghe durante a parte de seu livro que fala sobre antipsiquiatria. Dado esse contexto, eu esperava uma parte maior do livro dedicada a destrinchar o DSM-V e criticar ferrenhamente a cultura neoliberal de transformar diagnósticos em identidades -- comunidade autista, estou falando de vocês (nós)! Ele de fato faz isso, mas em uma parte muito pequena que pareceu até meio corrida perto do tamanho do livro.
Colocações de Verhaeghe que eu considero que fazem o livro valer a pena: …
Ponderei por um tempo qual nota daria para esse livro, e durante a leitura minha nota foi de 4 para 5, de 5 para 4 e de 4 para 3, só de raiva. Mas vou manter o 4, e explico o porquê.
Verhaeghe, o autor, é um psicanalista belga. Peguei essa dica de leitura lendo Pussy Riot, o último livro que resenhei aqui. O título me chamou atenção, e Nadya citou Verhaeghe durante a parte de seu livro que fala sobre antipsiquiatria. Dado esse contexto, eu esperava uma parte maior do livro dedicada a destrinchar o DSM-V e criticar ferrenhamente a cultura neoliberal de transformar diagnósticos em identidades -- comunidade autista, estou falando de vocês (nós)! Ele de fato faz isso, mas em uma parte muito pequena que pareceu até meio corrida perto do tamanho do livro.
Colocações de Verhaeghe que eu considero que fazem o livro valer a pena:
1) Aproximações entre a cosmovisão cristã e a científica: ambas partem do princípio de que o homem é mau por natureza, e precisa ser purificado, seja pela cristandade, seja pelo conhecimento científico que o tira da ignorância.
2) Colocação de como o cristianismo transforma a visão do mundo ocidental da imanência para a transcendência e como isso provavelmente ajuda a desembocar no neoliberalismo dos anos 1990-2020.
3) Indicação de como A Origem das Espécies de Darwin é um dos livros mais mal compreendidos e que sofre com oportunismo de toda a história da humanidade. Verhaeghe faz diversas referências a Darwin para contrapor a lógica oportunista do darwinismo social.
4) Crítica à noção de progresso como uma escada que só sobe, e como isso contradiz a própria evolução como colocada por Darwin.
5) Aproximações entre religião e ideologia.
6) Apontamento de como o neoliberalismo é um novo paradigma identitário que é bastante disseminado em todas as outras partes do domínio humano, não apenas a economia, como de costume com outras ideologias econômicas (debatível).
7) Crítica à noção de caridade: filantropia no lugar de emancipação é um clássico do neoliberalismo, e é apontado nesse livro.
8) Conflitos intergeracionais existem desde sempre, mas é possível que dessa vez eles estejam mais fortes do que nunca pela velocidade que o neoliberalismo se espalhou e mudou todo um paradigma de identidades (e ele detalha isso bastante bem).
9) Críticas à escola neoliberal e seu crescente papel de selecionar pupilos que não possam se adequar ao trabalho (neoliberal) futuramente e já encaminhá-los para receber uma alcunha do DSM-V - nunca tinha visto nesse ponto de vista, mas achei bastante perspicaz. O trecho "In a neo-liberal society, the function of education is not so much to train individuals to a high level as to select youngsters and mould them to fit a certain profile that will guarantee the highest productivity" expressa muito o que eu penso da educação superior no Brasil, especialmente nos campos da Engenharia.
10) Comparação entre psicólogos e psicoterapeutas com a função dos padres antigamente: os psicoterapeutas são receptáculos de confissões sobre nosso fracasso no sistema, e precisam fornecer estratégias para que sejamos menos fracassados.
11) Constatação de que o neoliberalismo está trazendo o que há de pior no ser humano -- e não precisa ser assim, porque não somos maus por natureza, nem particularmente bons.
12) Críticas ao DSM-V: "in the current version of the illness model, we constantly run up against circular arguments that only provide the illusion of a scientific explanation.", "A preoccupation with individual symptoms may lead to a “disembodied psychology” which separates what goes on inside people’s heads from social structure and context."
13) Críticas ao cientificismo: "The current dominant paradigm in psychiatry is the illness model. This also ties in seamlessly with the reduction of science to scientism: all results must be generalisable, based on objective and value-free research using accepted methods, independent of context."
14) A colocação de que o modelo do diagnóstico psiquiátrico retira de nós e da sociedade a responsabilidade por resolver problemas individuais e sociais, respectivamente, por meio do clássico "It's a disease, so I can't do anything about it". Já escrevi anteriormente sobre como o autismo e outras neurodivergências vêm ganhando espaço enorme no ideário popular por causa do determinismo biológico e genético... Mas isso é papo para outra hora.
15) O papel da desigualdade social e econômica no mal-estar da população em geral, incluindo a tal da saúde mental.
Enfim, como vocês podem notar, teve vários pontos fortes no livro. Os pontos fracos, na minha opinião, foram o pouco espaço dedicado a analisar a construção de identidade a partir de diagnósticos psiquiátricos, um mal do nosso século; além disso, o autor claramente é anticomunista apesar de ser ferrenho crítico do neoliberalismo. Isso me deu um pouco de preguiça, apesar de eu entender os pontos dele sobre como não conseguiremos ser completamente homogêneos enquanto sociedade. O autor também é bastante crítico de críticas à existência de autoridade, o que eu acho disputável.
Mas, sem dúvidas, o que estragou foi o final, que propõe basicamente uma ação individual para subverter o neo-liberalismo, argumentando que o problema não são os outros, somos nós mesmos: "And we ourselves must take the first steps towards creating that social polity through the choices that we make." Acho preocupante que o autor nade tanto para morrer na praia (ou seja, faça uma argumentação brilhante no começo e meio do livro para terminar nessa ladainha individualista).
De qualquer forma, acho que vale a pena a leitura.
Marte replied to Andrei Golemsky's status
@andreigolemsky Quando terminar, conta pra gente o que achou. Vi um pessoal falando que esse livro é muito chato, e sua opinião contrária me deixou curiosa.
Marte finished reading What about Me? by Paul Verhaeghe
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What about Me? by Paul Verhaeghe
According to current thinking, anyone who fails to succeed must have something wrong with them. The pressure to achieve and …
Marte replied to Felipe Siles's status
@felipesiles Li esse no ano passado. Boa leitura :-)
Marte started reading What about Me? by Paul Verhaeghe
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What about Me? by Paul Verhaeghe
According to current thinking, anyone who fails to succeed must have something wrong with them. The pressure to achieve and …
"É muito mais fácil espiar por baixo da saia de uma mulher que esteja no alto de um pedestal"
4 stars
Nesse livro, Nadya Tolokonnikova, uma das participantes e fundadoras do grupo Pussy Riot, que utiliza de arte punk para denunciar crimes de Estado na Rússia, relata suas experiências no ativismo. O Pussy Riot ficou conhecido no começo dos anos 2010 por suas ações artísticas irreverentes e destemidas contra a plutocracia putinesca, e Nadya e outras companheiras suas foram presas pelo Estado russo por desobediência civil.
O livro tem formato de guia, e, apesar de eu ter muita preguiça desses manuais de ativismo, senti que aqui esse formato fez sentido. Além de guia, é uma autobiografia. Nadya escreveu o livro originalmente em inglês, que não é sua língua materna, o que ajudou a linguagem a ser simples e direta. Dessa forma, a leitura é para todes, mesmo aqueles que não são muito iniciados no ativismo ou que não têm grandes contextos de ciências sociais e políticas ou filosofia.
São 10 regras …
Nesse livro, Nadya Tolokonnikova, uma das participantes e fundadoras do grupo Pussy Riot, que utiliza de arte punk para denunciar crimes de Estado na Rússia, relata suas experiências no ativismo. O Pussy Riot ficou conhecido no começo dos anos 2010 por suas ações artísticas irreverentes e destemidas contra a plutocracia putinesca, e Nadya e outras companheiras suas foram presas pelo Estado russo por desobediência civil.
O livro tem formato de guia, e, apesar de eu ter muita preguiça desses manuais de ativismo, senti que aqui esse formato fez sentido. Além de guia, é uma autobiografia. Nadya escreveu o livro originalmente em inglês, que não é sua língua materna, o que ajudou a linguagem a ser simples e direta. Dessa forma, a leitura é para todes, mesmo aqueles que não são muito iniciados no ativismo ou que não têm grandes contextos de ciências sociais e políticas ou filosofia.
São 10 regras que ela separa por capítulos; a própria autora argumenta que podem ser jogadas no lixo caso o leitor assim o queira. Cada capítulo é separado em três partes: palavras, ações e heróis, que têm função autobiográfica, filosófica e historiográfica de certa forma.
Dentre os heróis citados por Nadya, estão Martin Luther King, a dupla Yes Men, Michel Foucault, Aleksandra Kollontai e bell hooks, entre outros.
Como Nadya é grande crítica da oligarquia de Putin e também do capitalismo norte-americano na figura de Trump (que havia sido recém-eleito quando o livro foi lançado), você também pode esperar grandes críticas ao autoritarismo soviético, que tem grandes rusgas na sociedade russa até hoje. Penso que tais críticas são essenciais para uma análise justa do período do socialismo real. Entretanto, senti que as palavras macias e até inspiradas por uma pessoa específica, Vladimir Bukovsky, me incomodaram. Em alguns aspectos, a crítica anti-autoritária em relação à URSS acabam sendo em grande parte apenas anti-comunismo e pró-capitalismo. Longe de mim querer dizer o que um sobrevivente de prisões e trabalho forçado deve achar ou não, mas não acho justo nos colocarmos contra abusos em regimes comunistas se achamos ok recebermos medalhas cujo nome são Truman-Reagan (sem brincadeira, é só olhar a Wikipedia).
Enfim, acho que a particularidade russa tem muito a ver com essa questão: como propor uma subversão a Putin e sua oligarquia, detonar o capitalismo e fazer uma crítica justa e correta aos tempos soviéticos, tudo ao mesmo tempo, sem cair em falácias? De qualquer forma, acho que Nadya se saiu muito bem no livro.
Minha parte preferida do livro foram as menções à anti-psiquiatria e luta antimanicomial, e a parte que mais me tocou foram seus relatos dos tempos de prisão e trabalho forçado, ainda que eu não concorde com todas as saídas que ela propõe para a questão do encarceramento na Rússia. De qualquer forma, excelente livro, com um problema ou outro. Não é difícil de ser lido, e nos ajuda a criar esperanças para a luta nesse começo de 2024.
Marte finished reading Um Guia Pussy Riot Para o Ativismo by Nadya Tolokonnikova

Um Guia Pussy Riot Para o Ativismo by Nadya Tolokonnikova
Feminismo, ativismo, arte, literatura, sistema judicial, sistema penitenciário, antipsiquiatria, resistência, Nadya atravessa todos esses temas de corpo inteiro, num relato …
Marte replied to Uma_Mocinha's status
@Uma_Mocinha tenho algumas recomendações que, humildemente, penso que são muito boas em quadrinhos de não-ficção: Persépolis, A Diferença Invisível, Pílulas Azuis, MAUS. Talvez você queira dar uma olhada nesses, se te interessar. Mas esse realmente é horrível em vários aspectos.