Uma coisa composta de partes diversas deve ser tal que, se suas partes são tomadas em particular, uma pode ser compreendida e entendida sem a outra. Assim, por exemplo, em um relógio que está composto de numerosas rodas e cordas diferentes e de outras coisas, cada roda, corda, etc., pode, digo eu, ser compreendida e entendida em particular, sem que seja necessário considerar o todo, tal como está composto. Igualmente na água, composta de partículas retas e oblongas, pode cada uma delas ser compreendida e entendida, e existir, sem o todo ; a extensão, contudo, sendo uma substância, não se pode dizer dela que tenha partes, dado que não pode se tornar nem menor nem maior, e nenhuma parte sua pode ser entendida em particular, porque ela deve ser infinita em sua natureza. Agora, que ela [a extensão] deva ser assim, isso segue de que, se não o fosse, mas consistisse em partes, não seria, como foi dito, de maneira nenhuma infinita por sua natureza. Porém, é impossível que se possam conceber partes em uma natureza infinita, porque todas as partes são finitas por sua natureza.
— Breve tratado de Deus, do homem e do seu bem-estar by Baruch Spinoza