Reviews and Comments

Marte

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Primo Levi: Os afogados e os sobreviventes (Paperback, português language, 2016, Paz e Terra) 5 stars

Primo Levi retoma sua reflexão sobre o campo de extermínio nazista 40 anos depois de …

"Não se deve esquecer que esta é uma guerra sem fim"

4 stars

"Os afogados e os sobreviventes" é o último livro escrito por Primo Levi antes de sua morte em 1987. Para aqueles que não ouviram falar de Primo Levi, julgo que poucos, ele foi um químico italiano e judeu, prisioneiro de Auschwitz em 1944 e sobrevivente. Levi escreveu extensivamente sobre sua "experiência" nos Lager nazistas, sendo sua primeira obra "É isto um homem?".

Neste livro, Levi faz mais uma reminiscência sobre a natureza humana e os horrores do Holocausto, focando em assuntos como memória, comunicação, violência e estereótipos.

Há pouco que eu possa explorar sobre o assunto nazismo sendo uma pessoa leiga, mas o livro de Levi me fez pensar sobre certos tópicos. Em especial, uma citação ressoou pessoalmente: "É dever do homem justo declarar a guerra a todo privilégio não merecido, mas não se deve esquecer que esta é uma guerra sem fim."

Tenho, até agora, uma orientação anarquista, que, …

Maia Kobabe: Gênero Queer (GraphicNovel, inglês language, 2023, Tinta da China Brasil) 4 stars

A premiada HQ que narra de modo sensível a transição de gênero de Maia Kobabe. …

O livro mais banido de escolas nos EUA pelo terceiro ano seguido é, claro, injustiçado

4 stars

Gênero queer, de Maia Kobabe, é uma história em quadrinhos voltada principalmente para aquelus 1) interessades em aprender mais sobre uma perspectiva de ser não-binárie, enquanto aliades 2) interessades em investigar uma perspectiva não-binárie porque estão considerando o serem elus própries. Portanto, sim, a autobiografia/memória é bastante didática, o que pode ser meio chato se você já é uma pessoa iniciada no assunto ou se está procurando algo mais literário ou profundo. Tendo isso em vista, é uma pena que tenha sido frequentemente banido de escolas nos EUA, porque é justamente o tipo de literatura que adolescentes gênero não-conformes e sues amigues gostariam de acessar.

Lendo com 25 anos, e já conhecendo algumas coisas dos debates de não-binariedade de gênero, eu achei o livro um pouco didático e bobo demais. Até meio simplista e muito fofo. Acho que já estou preparada para leituras um pouco mais maduras e adultas. Inclusive, …

Vinciane Despret: O que diriam os animais? (Paperback, português language, 2021, Ubu) 5 stars

Os macacos sabem mesmo macaquear? Os animais podem se revoltar? Qual o interesse dos ratos …

"O que diriam os animais?" é sobre o que dizem os [animais] humanos

5 stars

Excelente livro da filósofa Vinciane Despret sobre a relação entre [animais] humanos e animais, sobre epistemologia da ciência e antropocentrismo. Com toques de sarcasmo e cutucando onde precisa ser cutucado, Despret é incisiva nas críticas a áreas pouquíssimo criativas como a sociobiologia. Por muito tempo, o tal do método científico vem tentado entender animais do ponto de vista antropocêntrico e Ocidental, como se estes fossem máquinas biológicas movidas pela passagem dos genes saudáveis, de acordo com a teoria da evolução. Isso despindo-os de agência, desejos, cognição, capacidade de buscar prazer, entre outros. E, na tentativa de denunciar os abusos praticados por esse método, muitos ativistas tratam os animais como se fossem vítimas, o que os despe dessas características, também. Despret aborda todos esses assuntos e faz o leitor questionar-se sobre as certezas da ciência (por exemplo, que lobos se organizam entre alfas, betas e ômegas... será?), sobre qual o limite …

Manuel Antônio de Almeida: Memórias de um Sargento de Milícias (Paperback, português language, 2010, Martin Claret) 3 stars

Com um único romance que escreveu aos 21 anos, Memórias de um Sargento de Milícias, …

Parecia mais legal nas minhas memórias (sem trocadilhos)

3 stars

Se eu não me engano, Memórias de um Sargento de Milícias (que eu insisto em chamar de Memórias Póstumas de um Sargento de Milícias na minha cabeça, admito) foi um dos livros da lista da Fuvest no meu ano de ingresso (aliás, Memórias Póstumas de Brás Cubas também).

Eu não li o livro na ocasião (admito), mas lembro de uma ou outra coisa das aulas de literatura para o vestibular e na minha cabeça, o livro era mais engraçado e divertido.

A primeira parte do livro fica descrevendo as traquinagens do Leonardinho, o personagem principal, que desde pequeno só quer saber de travessura e vadiagem. Essa parte é particularmente enfadonha, na minha opinião. Depois, passa a descrever a vida jovem-adulta de Leonardinho, que continua a se meter em vadiagem e adora um rabo de saia. Essa parte fica mais interessante e você começa a ansiar pelo desfecho. A questão é …

Alejandro Zambra: A Vida Privada das Árvores (Paperback, portuguese language, 2013, Cosac Naify) 4 stars

Segundo livro do escritor chileno Alejandro Zambra, 'A vida privada das árvores' é a história …

A vida privada de Julián

4 stars

A vida privada das árvores é, na verdade, menos sobre árvores e mais sobre Julián, um professor universitário chileno que está desvendando questões sobre sua vida. O enredo é como uma crônica, e se passa no apartamento de Julián enquanto esse cuida de Daniela, sua enteada, enquanto sua mãe Verónica não chega em casa. A partir desse fato -- Verónica ainda não chegou em casa e está atrasada -- Julián confabula milhares de cenários passados e futuros, incluindo a possibilidade de Verónica não voltar mais. O final é bastante aberto, e isso não me deixou muuuuito feliz, mas foi uma leitura agradável e particularmente rápida, perfeita para um domingo nublado.

Paul Verhaeghe: What about Me? (Paperback, english language, 2014, Scribe) 4 stars

According to current thinking, anyone who fails to succeed must have something wrong with them. …

Comecei amando esse livro. Aí nos 20% finais, o autor estragou tudo

4 stars

Ponderei por um tempo qual nota daria para esse livro, e durante a leitura minha nota foi de 4 para 5, de 5 para 4 e de 4 para 3, só de raiva. Mas vou manter o 4, e explico o porquê.

Verhaeghe, o autor, é um psicanalista belga. Peguei essa dica de leitura lendo Pussy Riot, o último livro que resenhei aqui. O título me chamou atenção, e Nadya citou Verhaeghe durante a parte de seu livro que fala sobre antipsiquiatria. Dado esse contexto, eu esperava uma parte maior do livro dedicada a destrinchar o DSM-V e criticar ferrenhamente a cultura neoliberal de transformar diagnósticos em identidades -- comunidade autista, estou falando de vocês (nós)! Ele de fato faz isso, mas em uma parte muito pequena que pareceu até meio corrida perto do tamanho do livro.

Colocações de Verhaeghe que eu considero que fazem o livro valer a pena: …

Nadya Tolokonnikova: Um Guia Pussy Riot Para o Ativismo (Paperback, português language, 2019, Ubu) 4 stars

Feminismo, ativismo, arte, literatura, sistema judicial, sistema penitenciário, antipsiquiatria, resistência, Nadya atravessa todos esses temas …

"É muito mais fácil espiar por baixo da saia de uma mulher que esteja no alto de um pedestal"

4 stars

Nesse livro, Nadya Tolokonnikova, uma das participantes e fundadoras do grupo Pussy Riot, que utiliza de arte punk para denunciar crimes de Estado na Rússia, relata suas experiências no ativismo. O Pussy Riot ficou conhecido no começo dos anos 2010 por suas ações artísticas irreverentes e destemidas contra a plutocracia putinesca, e Nadya e outras companheiras suas foram presas pelo Estado russo por desobediência civil.

O livro tem formato de guia, e, apesar de eu ter muita preguiça desses manuais de ativismo, senti que aqui esse formato fez sentido. Além de guia, é uma autobiografia. Nadya escreveu o livro originalmente em inglês, que não é sua língua materna, o que ajudou a linguagem a ser simples e direta. Dessa forma, a leitura é para todes, mesmo aqueles que não são muito iniciados no ativismo ou que não têm grandes contextos de ciências sociais e políticas ou filosofia.

São 10 regras …

Sybille Titeux de la Croix, Amazing Améziane: Miss Davis (GraphicNovel, português language, 2020, Agir) 3 stars

Negra. Ativista. Revolucionária. Angela Davis é uma das maiores ativistas do nosso tempo. Sua história …

Bonito, mas falta coesão narrativa

3 stars

As ilustrações da história em quadrinhos são excelentes. Aqui, estilos diferentes são misturados entre capítulos, mas de alguma forma, faz sentido e não fica esquisito. O problema está na narrativa.

O primeiro capítulo narra a história da infância de Angela Davis, importante ativista dos direitos civis estadunidense. A narradora desse capítulo é Cynthia Wesley, amiga de infância de Davis, e é uma narração fictícia pois Cynthia morreu em um atentado terrorista da KKK em 1963, quando Angela já não morava mais em sua cidade natal. Esse capítulo é até que bem elaborado, principalmente se você não conhece a história de Wesley. Entretanto, o primeiro problema já aparece ao final do primeiro capítulo: nenhum contexto mais específico sobre esse atentado e seus impactos no movimento negro estadunidense é dado pela narração, que passa a ser dada por uma jornalista branca fictícia após a morte de Wesley na narrativa. Aliás, essa jornalista …

Liv Strömquist: A rosa mais vermelha desabrocha (GraphicNovel, Portuguese language, 2021, Quadrinhos Na Cia) 2 stars

Depois do sucesso de A origem do mundo, Liv Strömquist está de volta numa poderosa …

Vai do nada a lugar nenhum

2 stars

Só não dou uma das menores notas (0.5/5 ou 1.0/5) porque essa honraria está destinada aos livros da Colleen Hoover, se um dia eu tiver o desprazer de ler.

Esse livro é escrito por uma quadrinista que também é socióloga, mas ela falha completamente em entregar um ponto. A tese dela é a seguinte: no capitalismo tardio, as pessoas se apaixonam menos que antes. É uma tese disputável, mas também razoável. O problema é que a autora se perde completamente na hora de comprovar sua tese, ela vai e volta na história, culpa as feministas, culpa os psicanalistas, culpa os romantistas machistas do século XIX, e eu não consigo entender o que ela quer entregar aqui. Fica até difícil tecer uma resenha crítica desse jeito.

Quanto à arte dos quadrinhos, ou você faz quadrinhos, ou você escreve muralhas de texto à mão. Não gosto do segundo tipo de arte aparecendo …

Fray Baroque, Tegan Eanelli: Bash Back! (Paperback, português language, N-1 Edições) 5 stars

(...) “Bash”, verbo inglês cuja tradução pode ser: bater com força ou criticar severamente. “Back”, …

"Lenin e Marx nunca transaram dos jeitos que a gente transa"

5 stars

Tinha lido esse livro cerca de um ano atrás na versão de e-book -- que inclusive está integralmente disponível no site da crocodilo edições, o que é bem justo com a proposta anárquica do livro, que é uma coletânea de textos. O contexto de escrita desses textos é justamente os levantes que se deram com a Bash Back!, uma "proposta de propagação de práticas libertárias e ações diretas, pela expansão de uma rede anti-hierárquica de levantes descentralizados, compostos por táticas múltiplas de antiopressão e antiassimilação" (como escreve Flávia Lucchesi no prefácio brasileiro), no contexto estadunidense ali pelo final dos anos 2000/começo dos anos 2010.

Quando li pela primeira vez, senti uma empolgação visceral, um impulso de querer procurar por uma organização, mas também querer iniciar uma insurreição. Esse sentimento se mantém nessa segunda leitura, agora em versão física, motivo pelo qual estou aumentando minha avaliação de 4/5 para 5/5.

As …

Art Spiegelman: Maus (GraphicNovel, Português language, 2005, Quadrinhos na Cia) 5 stars

Maus ("rato", em alemão) é a história de Vladek Spiegelman, judeu polonês que sobreviveu ao …

"Se vida significa vitória, morte significa derrota"

5 stars

Li MAUS duas vezes esse ano.

As duas foram desconfortáveis, mas na segunda leitura, consegui prestar mais atenção em detalhes que passaram um pouco batidos na sede de ver como a história terminava. Histórias em quadrinhos são minhas preferidas porque conseguem passar certos detalhes que só consigo notar em texto com maior dificuldade. Não consigo imaginar Maus sendo em outro formato. Parte da sacada de Spiegelman é a representação de humanos como animais antropomorfizados. Judeus são ratos, alemães não-judeus são gatos, poloneses são porcos, estadunidenses são cachorros, franceses são sapos, suecos são cervos... Além da óbvia metáfora entre caçador e caçado, entre rato e gato, Spiegelman força os próprios estereótipos pseudocientíficos de raça. Por exemplo, a esposa francesa de Spiegelman, convertida ao judaísmo, pede para ser representada por rato dentro da própria narrativa. Mas quem é ela, e onde ela se insere no jogo de raças da Europa?

Raças humanas …

Karl Marx, Friedrich Engels: Manifesto do Partido Comunista (Paperback, português language, 2008, Paz e Terra) 4 stars

A leitura do Manifesto serve como chave para compreender a história dos homens numa virada …

"Proletários de todo mundo, uni-vos!"

4 stars

O Manifesto é, como já estamos carecas de saber, um texto com caráter mais panfletário e menos profundo do que as outras obras de Marx (e Engels). Na minha opinião, o Manifesto peca em um lugar, pelo menos: a insistência de Marx no proletariado como a única classe capaz de trazer a emancipação da população das garras dos burgueses, em contraste com o que ele mesmo coloca como campesinato, lumpenproletariado, etc. Marx, por que você odeia tanto o campesinato, meu bem? É impossível falarmos do comunismo no Brasil do século XXI sem pensar no campesinato, por exemplo. E para mim o lumpenproletariado não é reacionário como Marx julga ser. Bom, eu preciso aprofundar minhas leituras em Marx antes de voltar nesse ponto, admito. Cenas dos próximos capítulos.

reviewed Píppi nos Mares do Sul by Astrid Lindgren (Píppi Meialonga, #3)

Astrid Lindgren: Píppi nos Mares do Sul (Paperback, português language, 2003, Companhia das Letrinhas) 3 stars

Píppi Meialonga, a menina de tranças ruivas espetadas e rosto sardento, é a pessoa mais …

Píppi nos mares do sul: o livro continua uma leitura válida para crianças em 2023?

3 stars

Content warning Assuntos sensíveis: racismo

reviewed Píppi a bordo by Astrid Lindgren (Píppi Meialonga, #2)

Astrid Lindgren: Píppi a bordo (Paperback, português language, 2002, Companhia das Letrinhas) 3 stars

Com seu coração de ouro, suas tranças espetadas e as sardas que ela não troca …

A graça de Píppi a Bordo acaba no racismo colonialista

3 stars

Content warning Inclui detalhes sobre o final do enredo. Assuntos sensíveis: racismo

reviewed Píppi Meialonga by Astrid Lindgren (Píppi Meialonga, #1)

Astrid Lindgren: Píppi Meialonga (Paperback, português language, 2001, Companhia das Letrinhas) 5 stars

Autora de mais de oitenta livros já traduzidos para mais de setenta línguas, a sueca …

Píppi, a criança legal que eu gostaria de ter sido

5 stars

Píppi Meialonga é o primeiro livro de uma trilogia da personagem Píppi, um clássico da literatura infantil sueca e da autora multipremiada Astrid Lindgren. Esse livro é um dos meus preferidos da minha infância, e estive revisitando para poder passá-lo adiante para alguma pessoa interessada, seja criança ou não. Píppi é uma criança esquisita, irreverente, original, e que não entende as regras da sociedade sueca porque cresceu viajando com seu pai, pirata. Tudo o que eu, uma criança esquisita, gostaria de ter sido: legal. Enfim, é uma leitura gostosa até mesmo para uma adulta. Se você tem crianças mais velhas (9~12 anos) na família, talvez interesse recomendar esse livro para elas. Tem um ou outro problema relativo à época em que foi escrito (i.e., as marcas colonialistas europeias dos anos 1940 aparecem de forma sutil), mas, na minha opinião, não estraga a experiência.