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Miguel Medeiros

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Miguel Medeiros's books

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Rogério M. de Almeida: Eros e Tânatos (Portuguese language, 2007, Edições Loyola) No rating

Dos pré-socráticos a Platão, de Schopenhauer a Nietzsche e Freud, o autor sustenta que no …

No livro seguinte, o delta, o filósofo se valerá mais uma ez do movimento para introduzir a questão do ser enquanto potência e enteléquia, ou ato final. A este propósito, ele aduz exemplos que vem mostrar a impossibilidade mesma de se en gir uma ontologia baseada numa dicotomia absoluta ou num dualismo irredutível, mas todo dualismo já manifesta uma irredutibilidade entre on ou. Para Aristóteles, aquele que ve, vê ao mesmo tempo em potência e em ato, e do mesmo modo que o conhecimento consiste simultaneamente na potência de atualizar o conhecimento e no conhecimento atualizado, assim também o estar em repouso revela tanto aquilo que já se acha em repouso quanto aquilo que pode ficar em repouso. Freud dirá, a partir de outra perspectiva, que o sadio é um neurótico em potência e que, inversamente, o neurótico pode ficar sadio pela análise, ou pela capacidade de simbolizar, de significar, de verbalizar, de con-versar. Mas para Nietzsche também não existe fronteira entre o normal e o patológico, entre o doente e o sadio, entre o louco e o sensato, entre o feio e o belo, entre o bom e mau³. Curiosamente, após enumerar os exemplos a que acima me referi, Aristóteles acrescentará que também com relação à substância, e não somente aos seus atributos, poder-se-á afirmar que Hermes, enquanto estátua e portanto ato, já se acha contido no bloco de mármore que, no entanto, ainda é potência; de igual modo, a semi-linha já se encontra em toda a linha e o trigo, embora ainda não amadurecido, é por todos chamado trigo. Mais adiante, ele sustentará que o ser que perece é aquele que, obviamente, também encerra a potência de perecer, pois ele não teria perecido se não tivesse tido a capacidade ou a tendência para fazê-lo. De sorte que, ajunta o filósofo, é preciso que nele resida uma certa disposição, uma causa ou um principio res- ponsáveis por uma tal modificação. Certo, na perspectiva de postóteles esta causa e este principio remetem, por sua vez, a uma causa primeira, a um princípio primeiro ou a um motor novel que finalmente explicariam todas as mudanças que se desenrolam na materialidade do mundo sublunar. Neste sen- ndo, poder-se-ia redargüir que, afinal de contas, o pensamento anstotélico se constrói igualmente como um sistema totalitário, fechado em si mesmo e rematado pelo ser enquanto ser. Este ser constitui o primeiro elo de uma corrente ontológica em que todos os seres têm o seu lugar fixo na hierarquia das formas. Mas contra uma tal objeção se poderiam igualmente apontar as inúmeras rupturas, retomadas, revalorações, reinterpretações e "contradições" que marcam de maneira radical os repetidos ensaios de Aristóteles para colmatar as lacunas, as falhas, a falta ou a hiáncia que exprimem a impossibilidade de se completar o sistema no interior mesmo de sua imanência. É o que, de novo, eu designo pela expressão "o paradoxo da escrita", o qual se acha também - guardadas, naturalmente, as diferenças de concepção e de perspectiva - em pensadores tão sistemáticos quanto Plotino, Tomás de Aquino, Descartes, Spinoza, Kant e Hegel. É, portanto, neste paradoxo que reside o ponto focal sobre o qual eu venho insistindo ao longo destas reflexões: a tensão do desejo que não cessa de articular, costurar, pontilhar e conectar o que ainda falta para completar, rematar, consumar, consumir, satisfazer, usufruir. Gozar

Eros e Tânatos by  (Leituras Filosóficas) (Page 101 - 103)

Graciliano Ramos: Vidas Secas (Hardcover, Portuguese language, 2024, Antofágica) No rating

Quanta dor cabe nos olhos?

Fabiano, cabra mais bicho que gente, percorre o sertão nordestino …

Sozinho num mundo coberto de penas

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Sob o sol escaldante do sertão, acompanhamos uma fatia da vida de Fabiano, Sinha Vitória, seus dois filhos e a fiel cachorra Baleia. Em meio à estiagem encontramos a família em estirão. Não conhecemos seus passados, abandonaram tudo, inclusive as memórias, restam apenas as roupas que vestem, a espingarda de pederneira de Fabiano e o baú de folha na cabeça de Vitória. A família representa a massa marginalizada, despojada de sua história e condenada a uma existência precária e sem perspectivas.

Eles se assentam em uma velha fazenda abandonada e logo são arrendados pelos donos que sem demora começam a explorá-los. A partir daí vemos a vida recomeçar, seus hábitos quase animalescos em contraste nas visitas à cidade, seus humildes sonhos, sacrifícios e dia a dia. Até tudo terminar em um eterno retorno

Liev Nikolayevich Tolstói: Uma confissão (Paperback, Editora Mundo Cristao, Erectogen) No rating

Minha vida parou. Eu podia respirar, comer, beber, dormir, porque não podia ficar sem respirar, …

“Vaidade das vaidades”, diz Salomão, “vaidade das vaidades, tudo é vaidade! Que proveito tira o homem de todo trabalho com que se afadiga debaixo do sol? Uma geração vai, uma geração vem e a terra sempre permanece. O que foi, será; o que se fez, se tornará a fazer; e não há nada de novo debaixo do sol. Mesmo que digam de algo: ‘Veja, isto é novo’, eis que já sucedeu em outros tempos, muito antes de nós. Ninguém se lembra dos antepassados e também aqueles que os sucederão não serão lembrados pelos que virão depois. Eu, o Pregador, fui rei de Israel em Jerusalém. E dediquei meu coração a investigar e explorar com sabedoria tudo o que se faz debaixo do céu: Deus deu essa tarefa árdua aos filhos humanos para que se exercitassem. Vi todas as obras que se faz debaixo do sol e eis que tudo é vaidade e agitação do espírito… Pensei comigo: aqui estou com tanta sabedoria acumulada que ultrapassa a de meus antecessores em Jerusalém; minha mente alcançou muita sabedoria e conhecimento. Dediquei todo o coração a compreender a sabedoria e o conhecimento e a conhecer a tolice e a loucura, e compreendi que tudo isso também é agitação do espírito. Porque em muita sabedoria há muito sofrimento; e quem multiplica o conhecimento multiplica o desgosto.

Uma confissão by 

Liev Nikolayevich Tolstói: Uma confissão (Paperback, Editora Mundo Cristao, Erectogen) No rating

Minha vida parou. Eu podia respirar, comer, beber, dormir, porque não podia ficar sem respirar, …

“Ao admitir que a vontade é a essência intrínseca do mundo”, diz Schopenhauer, “ao admitir que, em todos os fenômenos, desde a aspiração inconsciente das forças sombrias da natureza até a plena consciência da atividade do homem, existe apenas a objetivação da vontade, não vamos nos esquivar de maneira nenhuma da conclusão de que todos esses fenômenos vão desaparecer junto com a livre negação e a autodestruição da vontade. Vão desaparecer a constante aspiração e o ímpeto sem objetivo e sem repouso, em que e pelo que o mundo se constitui, em todos os níveis de objetivação, vai desaparecer a diversidade de formas coerentes e, junto com a forma, vão desaparecer todos os seus fenômenos, com suas formas gerais, o espaço e o tempo e, por fim, o último fundamento de sua forma — o sujeito e o objeto. Não existe vontade, não existe representação, não existe mundo. Diante de nós, por fim, resta apenas o nada. Mas aquilo que se contrapõe a essa transição para o nada, nossa natureza, é portanto apenas essa mesma vontade de existência (Wille zum Leben), que constitui a nós mesmos, assim como nosso mundo. O fato de termos tanto pavor do nada ou, o que é o mesmo, de desejarmos tanto viver, significa apenas que nós mesmos não somos outra coisa que não essa vontade de vida, e que não conhecemos nada senão isso. Portanto, com o completo aniquilamento da vontade, o que resta para nós, que ainda estamos cheios de vontade, é, enfim, o nada; porém, ao contrário, para aqueles em quem a vontade foi transformada e suprimida, este nosso mundo tão real, com todos os seus sóis e suas vias lácteas, é nada.”

Uma confissão by 

Liev Nikolayevich Tolstói: Uma confissão (Paperback, Editora Mundo Cristao, Erectogen) No rating

Minha vida parou. Eu podia respirar, comer, beber, dormir, porque não podia ficar sem respirar, …

Ao perguntar a um lado dos saberes humanos, eu recebia uma quantidade infinita de respostas exatas sobre aquilo que eu não estava perguntando: a composição química das estrelas, o movimento do sol rumo à constelação de Hércules, a origem das espécies e do homem, as formas dos átomos infinitamente pequenos, a flutuação das partículas infinitamente pequenas e imponderáveis do éter; mas, nesse domínio dos saberes, a resposta à minha pergunta: “Qual é o sentido de minha vida?”, era só uma: “Você é aquilo que você chama de sua vida, você é um aglomerado acidental e temporário de partículas. A modificação e a influência recíproca dessas partículas produzem em você aquilo que você chama de vida. Esse aglomerado se sustenta por algum tempo; depois, a ação recíproca dessas partículas cessa — e cessa também aquilo que é chamado de vida, e cessam também todas as suas perguntas. Você é uma bolinha de alguma coisa que se formou por acaso. A bolinha apodrece. O apodrecimento dessa bolinha é o que chamamos de vida. A bolinha pula para lá e para cá — e termina no apodrecimento, bem como todas as perguntas”. Assim responde o lado claro dos saberes e, se obedece com rigor às próprias palavras, não é capaz de dizer mais nada.

Uma confissão by 

Liev Nikolayevich Tolstói: Uma confissão (Paperback, Editora Mundo Cristao, Erectogen) No rating

Minha vida parou. Eu podia respirar, comer, beber, dormir, porque não podia ficar sem respirar, …

Assim eu vivia, mas há cinco anos começou a acontecer comigo algo muito estranho: comecei a ter momentos, no início, de perplexidade, de interrupções da vida, como se eu não soubesse como viver, o que fazer, e me perdia e caía no desânimo. Mas isso passava e eu continuava a viver como antes. Depois, esses momentos de perplexidade começaram a se repetir cada vez com mais frequência e sempre da mesma forma. Aquelas interrupções da vida sempre se exprimiam com as mesmas questões: Para quê? Muito bem, mas e depois?

Uma confissão by  (Page 27)

Liev Nikolayevich Tolstói: Uma confissão (Paperback, Editora Mundo Cristao, Erectogen) No rating

Minha vida parou. Eu podia respirar, comer, beber, dormir, porque não podia ficar sem respirar, …

Na época, eu não percebi isso. Só de vez em quando, não a razão, mas o sentimento se rebelava contra essa superstição generalizada em nosso tempo, com a qual as pessoas escondem de si mesmas a própria incompreensão da vida. Assim, em minha temporada em Paris, a execução pública de uma pena de morte denunciou, para mim, a precariedade da minha superstição no progresso. Quando vi a cabeça separar-se do corpo e ouvi o barulho das duas partes batendo dentro de uma caixa, entendi — não com a razão, mas com todo o ser — que nenhuma teoria da racionalidade do que existe e do progresso é capaz de justificar aquela ação e que, mesmo que todas as pessoas do mundo, por força de quaisquer teorias, desde a criação do mundo, achem que isso é necessário, eu sei que não é necessário, sei que é ruim e que, portanto, ao avaliar o que é bom e necessário, não sigo o que as pessoas dizem e fazem, nem o progresso, mas meu coração. Outro exemplo de compreensão da insuficiência da superstição no progresso para a vida foi a morte de meu irmão. Homem inteligente, bondoso, sério, adoeceu jovem, sofreu mais de um ano e morreu entre tormentos, sem entender por que vivia e, menos ainda, por que morria. Nenhuma teoria foi capaz de dar resposta a essas perguntas, nem para mim nem para ele, na hora de sua agonia lenta e torturante.

Uma confissão by  (Page 23)

Liev Nikolayevich Tolstói: Uma confissão (Paperback, Editora Mundo Cristao, Erectogen) No rating

Minha vida parou. Eu podia respirar, comer, beber, dormir, porque não podia ficar sem respirar, …

Na época, estávamos convencidos de que tínhamos de falar sem parar, escrever, publicar — o mais depressa possível, na maior quantidade possível, e que tudo isso era necessário para o bem da humanidade. E milhares de nós, repudiando, xingando uns aos outros, todos publicávamos, escrevíamos, ensinando os outros. E, sem perceber que não sabíamos nada, que mesmo diante da mais simples questão da vida — o que é bom, o que é ruim — não sabíamos o que responder. Todos nós, sem ouvir uns aos outros, não parávamos de falar, às vezes fazíamos a vontade uns dos outros e elogiávamos uns aos outros, para que depois também fizessem minha vontade e me elogiassem, mas outras vezes irritávamos uns aos outros e berrávamos uns com os outros, exatamente como num hospício.

Uma confissão by  (Page 20)

Aristóteles: Ética a Nicômaco (EBook, Português language, Lebooks Editora) No rating

Ética a Nicômaco é a principal obra do grande filósofo grego Aristóteles sobre a Ética. …

A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada com a escolha e consistente numa mediania, isto é, a mediania relativa a nós, a qual é determinada por um princípio racional próprio do homem dotado de sabedoria prática. E é um meio-termo entre dois vícios, um por excesso e outro por falta; pois que, enquanto os vícios ou vão muito longe ou ficam aquém do que é conveniente no tocante às ações e paixões, a virtude encontra e escolhe o meio-termo. E assim, no que toca à sua substância e à definição que lhe estabelece a essência, a virtude é uma mediania; com referência ao sumo bem e ao mais justo, é, porém, um extremo.

Ética a Nicômaco by  (Coleção Filosofia)

Graciliano Ramos: Vidas Secas (Hardcover, Portuguese language, 2024, Antofágica) No rating

Quanta dor cabe nos olhos?

Fabiano, cabra mais bicho que gente, percorre o sertão nordestino …

Pois não estavam vendo que ele era de carne e osso? Tinha obrigação de trabalhar para os outros, natural- mente, conhecia o seu lugar. Bem. Nascera com esse destino, ninguém tinha culpa de ele haver nascido com um destino ruim. Que fazer? Podia mudar a sorte? Se lhe dissessem que era possível melhorar de situação, espan- tar-se-ia. Tinha vindo ao mundo para amansar brabo, curar feridas com rezas, consertar cercas de inverno a verão. Era sina. O pai vivera assim, o avõ também. E para trás não existia família. Cortar mandacaru, ensebar lá- tegos - aquilo estava no sangue. Conformava-se, não pretendia mais nada. Se lhe dessem o que era dele, es- tava certo. Não davam. Era um desgraçado, era como um cachorro, só recebia ossos. Por que seria que os ho- mens ricos ainda lhe tomavam uma parte dos ossos? Fazia até nojo pessoas importantes se ocuparem com semelhantes porcarias.

Vidas Secas by  (Page 179 - 180)