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Miguel Medeiros

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quoted Aristóteles by Richard Bodéüs (Leituras Filosóficas)

Richard Bodéüs: Aristóteles (Portuguese language, 2007, Edições Loyola) No rating

No fundo, ter e perseguir uma meta última, para um indivíduo, é ter uma "política" e ordenar seus assuntos do mesmo modo que a cidade ordena os assuntos de todos. Para Aristóteles, há aqui mais que uma simples analogia, pois o fim último da política não pode ser formalmente diferente do que é visado pelos indivíduos isoladamente. Pelo contrário, o que dá sentido à política, o que justifica, em seus princípios, a ordem e as leis que ela proclama, é precisamente o que dá sentido à existência dos indivíduos para os quais essas leis são feitas. Em outras palavras, a política é definitivamente a maneira pela qual os indivíduos reunidos na cidade pretendem dar sentido à sua existência. Ela responde, pois, à meta visada por cada um dos concidadãos e prescreve soberanamente, em função dessa meta, o que cada um deve realizar

Aristóteles by  (Leituras Filosóficas) (Page 14)

Juliana Ortegosa Aggio: Prazer e Desejo Em Aristóteles (Portuguese language, 2017, Universidade Federal da Bahia, Centro Editorial e Didactico) No rating

Nesta obra, Juliana realiza um estudo sólido sobre o problema da educação do desejo em …

a opinião de que os prazeres são ruins pelo fato de haver algumas coisas prazerosas que são nocivas não se sustenta. Isso porque o fato de ser nocivo não torna má a própria natureza da coisa nociva. Seria o mesmo que dizer que a saúde não é boa por despender gastos. Mesmo que, para se recobrar a saúde, seja preciso fazer algo “ruim”, como gastar dinheiro com remédios custosos, nem por isso se curar seria ruim. Se o que é nocivo não é necessária e absolutamente ruim, também o que é bom não é necessária e absolutamente inócuo. Mesmo que algo seja em si mesmo bom, ele pode ser, em algum sentido, nocivo. O exemplo fornecido por Aristóteles certamente espantaria Platão: a contemplação, quando excessiva, pode ser nociva à saúde. A contemplação, que é, por natureza, prazerosa, saudável e boa pode ser nociva ou ruim sob certo aspecto, mas isso não a torna essencialmente ruim.

Prazer e Desejo Em Aristóteles by 

Juliana Ortegosa Aggio: Prazer e Desejo Em Aristóteles (Portuguese language, 2017, Universidade Federal da Bahia, Centro Editorial e Didactico) No rating

Nesta obra, Juliana realiza um estudo sólido sobre o problema da educação do desejo em …

o filósofo pretende estabelecer em qual sentido o prazer pode ser um bem. Para tanto, é preciso antes conceber o que é o bem. Certamente, para que o prazer possa ser um bem, não poderá prevalecer a concepção de Platão de que ele é um processo de restauração (kathistasai) ao estado natural perfeito, estado em que não há carência ou falta, ou seja, o prazer é um mero preenchimento de um vazio ou uma falta dolorosa, portanto intrinsecamente misturado com dor.14 A resposta a esta objeção de caráter platônico surge inesperadamente, sem justificativas ou pormenores aparentes. Aristóteles parte do pressuposto de que o bem é tanto uma atividade (energeia), como uma disposição (hexis).15 Com o intuito claro de refutar Platão, Aristóteles concebe o prazer não como um processo, mas como uma atividade ou uma atualização (energeia) que pode acompanhar um processo. Neste caso, enquanto acompanhante de um processo, deve-se dizer que ele é acidental, e, enquanto uma atividade, que ele é real.

Prazer e Desejo Em Aristóteles by 

Juliana Ortegosa Aggio: Prazer e Desejo Em Aristóteles (Portuguese language, 2017, Universidade Federal da Bahia, Centro Editorial e Didactico) No rating

Nesta obra, Juliana realiza um estudo sólido sobre o problema da educação do desejo em …

A opinião de que o prazer não é um bem nem em si mesmo (per se), nem por acidente (per accidens), pretende se sustentar pelas seguintes razões: em primeiro lugar, (i) como o prazer é um processo sensível (genesis aisthêtê) com vistas à natureza, e (ii) o processo é distinto do fim do processo, pois o processo existe em vista do fim que, por sua vez, existe em vista de si mesmo; (iii) o fim deve ser concebido como o bem ao qual visa o processo. Por esta razão, o processo não é um bem e o prazer, sendo um processo, tampouco poderia ser um bem.8 Em segundo lugar, (i) como o temperante (sôphrôn) evita os prazeres9 e (ii) é ele quem serve de modelo para a busca do bem; por isso, o prazer não deve ser considerado um bem. A terceira razão é a de que o prudente (phronimos) busca o que não é penoso, e não o que é prazeroso, logo, (i) se o prudente busca o bem e (ii) este é antes o que não é penoso do que o que é prazeroso, conclui-se que buscar o bem é evitar o que é penoso e não perseguir o prazeroso. A quarta razão é a de que o prazer é um impedimento do exercício do pensamento,10 e se o impede, então ele deve ser considerado não acidentalmente, mas essencialmente um obstáculo para a realização da prudência. Assim, (i) se prazer é um impedidor da prudência e (ii) nada que seja bom a impediria, então o prazer não poderia ser um bem. A quinta razão é a seguinte: (i) como todo bem é produzido por uma arte (technê), e (ii) não há arte que produza o prazer, segue-se que o prazer não poderia ser um bem.11 A sexta e última razão é a de que, (i) como as crianças e os animais perseguem os prazeres e (ii) eles não são capazes de perseguir o bem que deve ser perseguido para o ser humano, isto seria um sinal de que o prazer não poderia ser um bem ou o bem supremo.

Prazer e Desejo Em Aristóteles by 

Juliana Ortegosa Aggio: Prazer e Desejo Em Aristóteles (Portuguese language, 2017, Universidade Federal da Bahia, Centro Editorial e Didactico) No rating

Nesta obra, Juliana realiza um estudo sólido sobre o problema da educação do desejo em …

Perguntaremos pelo objeto de desejo: afinal, tudo o que é tomado como objeto de desejo também é objeto de prazer? Há uma coincidência necessária entre parecer ser bom (objeto de desejo) e parecer ser prazeroso (objeto de prazer)? Ou nem tudo o que parece ser prazeroso é objeto de meu desejo? Mais ainda: nem tudo o que desejo me parece ser prazeroso? O que me faz desejar algo coincide ou não com o que me apetece? A resposta de Aristóteles parece ser negativa por dois motivos. Em primeiro lugar, visto que há mais de um tipo de desejo e não apenas o desejo pelo prazeroso (epithumia), nem sempre o objeto de desejo coincide com o objeto de prazer, sobretudo no que concerne aos outros dois tipos de desejo: impulso (thumos) e querer (boulêsis). Em termos gerais, podemos dizer que o objeto do impulso é uma dor sofrida e do querer é o bem simplesmente. Em segundo lugar, é tese bem estabelecida na ética aristotélica, que o virtuoso não age por prazer, mas por algo ser verdadeiramente um bem, embora sinta prazer ao agir, isto é, não é por parecer ser prazeroso que o virtuoso o desejará, mas o que é preciso ser feito nas circunstâncias particulares: este é o bem segundo a verdade. Todavia, mesmo que o desejo reto ou virtuoso não seja aquele por um objeto simplesmente tomado como prazeroso, ainda assim, tudo o que ele deseja lhe agrada, pois a ação virtuosa necessariamente lhe aparece como prazerosa.

Prazer e Desejo Em Aristóteles by 

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Nesta obra, Juliana realiza um estudo sólido sobre o problema da educação do desejo em …

Pois bem, ao contrário da moral estoica, Aristóteles pressupõe uma possível e necessária harmonia das nossas afecções da parte não racional, tais como os desejos e as emoções, com a nossa racionalidade prática. Para ele, desejo e razão são inseparáveis, como o corpo e a alma, a cera e o selo impresso, o mármore e a estátua. Inseparáveis, todavia distintos. Por isso, mesmo desprovido ele próprio de razão, o desejo pode participar dela, e, por outro lado, mesmo a razão desprovida de desejo, ela pode participar dele.

Prazer e Desejo Em Aristóteles by 

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O desejo, para Aristóteles, apesar de não ser capaz de julgar o que é bom, pois que sua natureza é simplesmente buscar o prazeroso e evitar o doloroso, é capaz de seguir o que ajuíza a razão como sendo bom. É preciso, portanto, esclarecer que, segundo o filósofo, o desejo não é de uma natureza tal absolutamente avessa à racionalidade; ao contrário, ele é próprio de uma natureza que se compõe e participa da razão. E se compõe no sentido de poder ser regrada pelo que a razão determina como sendo verdadeiramente um bem. Isso significa que o desejo é educável e, mais do que isso, deve ser educado para que o homem possa realizar de modo perfeito a sua natureza. Portanto, a educação do desejo, além de ser possível conforme a estrutura da alma humana, é eticamente necessária. Em suma, são duas as condições anímicas fundamentais para a aquisição da virtude: o desejo ser naturalmente incapaz de ajuizar sobre o que é bom, mas capaz de seguir o que dita a reta razão; e a razão ser naturalmente inapta para, por si só, motivar a ação, mas apta para apreender o que é bom e persuadir o desejo disso.

Prazer e Desejo Em Aristóteles by 

Juliana Ortegosa Aggio: Prazer e Desejo Em Aristóteles (Portuguese language, 2017, Universidade Federal da Bahia, Centro Editorial e Didactico) No rating

Nesta obra, Juliana realiza um estudo sólido sobre o problema da educação do desejo em …

Aristóteles certamente acreditava que o conhecimento é determinante no modo como sentimos e desejamos. Não qualquer conhecimento, nem qualquer operação racional. Trata-se, justamente, de uma certa percepção moral ou habilidade racional que pode apreender o que é bom ou ruim dentro das circunstâncias particulares de cada situação ou contexto. No caso dos animais, como não há operação racional alguma, a orientação do que é prazeroso ou doloroso encontra-se somente no âmbito da percepção. No homem, todavia, percepções e pensamentos estão envolvidos na constituição do que é prazeroso ou doloroso.

Prazer e Desejo Em Aristóteles by