8 – Preposição
Chama-se preposição a uma unidade linguística desprovida de independência – isto é, não aparece sozinha no discurso, salvo por hipertaxe (Ö 49) – e, em geral, átona, que se junta a substantivos, adjetivos, verbos e advérbios para marcar as relações gramaticais que elas desempenham no discurso, quer nos grupos unitários nominais, quer nas orações.
Não exerce nenhum outro papel que não seja ser índice da função gramatical de termo que ela introduz.
Em:
Aldenora gosta de Belo Horizonte
a preposição de une a forma verbal gosta ao seu termo complementar Belo Horizonte para ser o índice da função gramatical preposicionada complemento relativo (Ö 444).
Já em:
homem de coragem,
a mesma preposição de vai permitir que o substantivo coragem exerça o papel de adjunto adnominal do substantivo homem – função normalmente desempenhada por adjetivo. Daí dizer-se que, nestes casos, a preposição é um transpositor, isto é, elemento gramatical que habilita uma determinada unidade linguística a exercer papel gramatical diferente daquele que normalmente exerce. Ora, o substantivo normalmente não tem por missão ser palavra modificadora de outro substantivo, razão por que não é comum dizer-se homem coragem; para que coragem esteja habilitado a assumir o papel gramatical do adjetivo corajoso (homem corajoso), faz-se necessário o concurso do transpositor de: homem de coragem.
Neste papel, o termo anterior à preposição chama-se antecedente ou subordinante, e o posterior chama-se consequente ou subordinado. O subordinante pode ser substantivo, adjetivo, pronome, verbo, advérbio ou interjeição:
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O subordinado é constituído por substantivo, adjetivo, verbo (no infinitivo ou gerúndio) ou advérbio:
casa de Pedro
pulou de contente
gosta de estudar
em chegando
ficou por aqui
No exemplo:
De noite todos os gatos são pardos,
o grupo unitário de noite exerce na oração o papel de adjunto adverbial; mas
o que temos como núcleo é outro substantivo, cujo significado lexical está
incluído no amplo campo semântico das designações temporais das partes do
dia: noite. Impõe-se a presença do transpositor de para que o substantivo
fique habilitado ou constituindo uma locução adverbial temporal (de noite) e
assim possa exercer a função de adjunto adverbial na oração acima.
Locução prepositiva
É o grupo de palavras com valor e emprego de uma preposição. Em geral a locução prepositiva é constituída de advérbio ou locução adverbial seguida da preposição de, a ou com:
O garoto escondeu-se atrás do móvel.
Não saímos por causa da chuva.
O colégio ficava em frente a casa.
O ofício foi redigido de acordo com o modelo.
Às vezes a locução prepositiva se forma de duas preposições, como: até a,
para com e conforme a:
Foi até ao colégio.
Mostrava-se bom para com todos.
O juiz procedeu conforme ao testamento.
Preposições essenciais e acidentais
Há palavras que só aparecem na língua como preposições e, por isso, se dizem preposições essenciais: a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, perante, por [per], sem, sob, sobre, trás.
São ACIDENTAIS as palavras que, perdendo seu valor e emprego primitivos, passaram a funcionar como preposições: durante, como, conforme, feito, exceto, salvo, visto, segundo, mediante, tirante, fora, afora, etc.
Só as preposições essenciais se acompanham de formas tônicas dos pronomes oblíquos:
Sem mim não fariam isso.
Exceto eu, todos foram contemplados.
Acúmulo de preposições
Não raro duas preposições se juntam para dar maior efeito expressivo às ideias, guardando cada uma seu sentido primitivo:
Andou por sobre o mar.
As ordens estão por detrás dos regulamentos.
Estes acúmulos de preposições não constituem uma locução prepositiva porque valem por duas preposições distintas. Combinam-se com mais frequência as preposições: de, para e por com entre, sob e sobre.