Marte finished reading A Vida Privada das Árvores by Alejandro Zambra

A Vida Privada das Árvores by Alejandro Zambra
Segundo livro do escritor chileno Alejandro Zambra, 'A vida privada das árvores' é a história de uma espera. Julián, um …
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Segundo livro do escritor chileno Alejandro Zambra, 'A vida privada das árvores' é a história de uma espera. Julián, um …
@[email protected] Pior que não! Mas as árvores têm um papel especial nessa história :)
Segundo livro do escritor chileno Alejandro Zambra, 'A vida privada das árvores' é a história de uma espera. Julián, um …
Ponderei por um tempo qual nota daria para esse livro, e durante a leitura minha nota foi de 4 para 5, de 5 para 4 e de 4 para 3, só de raiva. Mas vou manter o 4, e explico o porquê.
Verhaeghe, o autor, é um psicanalista belga. Peguei essa dica de leitura lendo Pussy Riot, o último livro que resenhei aqui. O título me chamou atenção, e Nadya citou Verhaeghe durante a parte de seu livro que fala sobre antipsiquiatria. Dado esse contexto, eu esperava uma parte maior do livro dedicada a destrinchar o DSM-V e criticar ferrenhamente a cultura neoliberal de transformar diagnósticos em identidades -- comunidade autista, estou falando de vocês (nós)! Ele de fato faz isso, mas em uma parte muito pequena que pareceu até meio corrida perto do tamanho do livro.
Colocações de Verhaeghe que eu considero que fazem o livro valer a pena: …
Ponderei por um tempo qual nota daria para esse livro, e durante a leitura minha nota foi de 4 para 5, de 5 para 4 e de 4 para 3, só de raiva. Mas vou manter o 4, e explico o porquê.
Verhaeghe, o autor, é um psicanalista belga. Peguei essa dica de leitura lendo Pussy Riot, o último livro que resenhei aqui. O título me chamou atenção, e Nadya citou Verhaeghe durante a parte de seu livro que fala sobre antipsiquiatria. Dado esse contexto, eu esperava uma parte maior do livro dedicada a destrinchar o DSM-V e criticar ferrenhamente a cultura neoliberal de transformar diagnósticos em identidades -- comunidade autista, estou falando de vocês (nós)! Ele de fato faz isso, mas em uma parte muito pequena que pareceu até meio corrida perto do tamanho do livro.
Colocações de Verhaeghe que eu considero que fazem o livro valer a pena:
1) Aproximações entre a cosmovisão cristã e a científica: ambas partem do princípio de que o homem é mau por natureza, e precisa ser purificado, seja pela cristandade, seja pelo conhecimento científico que o tira da ignorância.
2) Colocação de como o cristianismo transforma a visão do mundo ocidental da imanência para a transcendência e como isso provavelmente ajuda a desembocar no neoliberalismo dos anos 1990-2020.
3) Indicação de como A Origem das Espécies de Darwin é um dos livros mais mal compreendidos e que sofre com oportunismo de toda a história da humanidade. Verhaeghe faz diversas referências a Darwin para contrapor a lógica oportunista do darwinismo social.
4) Crítica à noção de progresso como uma escada que só sobe, e como isso contradiz a própria evolução como colocada por Darwin.
5) Aproximações entre religião e ideologia.
6) Apontamento de como o neoliberalismo é um novo paradigma identitário que é bastante disseminado em todas as outras partes do domínio humano, não apenas a economia, como de costume com outras ideologias econômicas (debatível).
7) Crítica à noção de caridade: filantropia no lugar de emancipação é um clássico do neoliberalismo, e é apontado nesse livro.
8) Conflitos intergeracionais existem desde sempre, mas é possível que dessa vez eles estejam mais fortes do que nunca pela velocidade que o neoliberalismo se espalhou e mudou todo um paradigma de identidades (e ele detalha isso bastante bem).
9) Críticas à escola neoliberal e seu crescente papel de selecionar pupilos que não possam se adequar ao trabalho (neoliberal) futuramente e já encaminhá-los para receber uma alcunha do DSM-V - nunca tinha visto nesse ponto de vista, mas achei bastante perspicaz. O trecho "In a neo-liberal society, the function of education is not so much to train individuals to a high level as to select youngsters and mould them to fit a certain profile that will guarantee the highest productivity" expressa muito o que eu penso da educação superior no Brasil, especialmente nos campos da Engenharia.
10) Comparação entre psicólogos e psicoterapeutas com a função dos padres antigamente: os psicoterapeutas são receptáculos de confissões sobre nosso fracasso no sistema, e precisam fornecer estratégias para que sejamos menos fracassados.
11) Constatação de que o neoliberalismo está trazendo o que há de pior no ser humano -- e não precisa ser assim, porque não somos maus por natureza, nem particularmente bons.
12) Críticas ao DSM-V: "in the current version of the illness model, we constantly run up against circular arguments that only provide the illusion of a scientific explanation.", "A preoccupation with individual symptoms may lead to a “disembodied psychology” which separates what goes on inside people’s heads from social structure and context."
13) Críticas ao cientificismo: "The current dominant paradigm in psychiatry is the illness model. This also ties in seamlessly with the reduction of science to scientism: all results must be generalisable, based on objective and value-free research using accepted methods, independent of context."
14) A colocação de que o modelo do diagnóstico psiquiátrico retira de nós e da sociedade a responsabilidade por resolver problemas individuais e sociais, respectivamente, por meio do clássico "It's a disease, so I can't do anything about it". Já escrevi anteriormente sobre como o autismo e outras neurodivergências vêm ganhando espaço enorme no ideário popular por causa do determinismo biológico e genético... Mas isso é papo para outra hora.
15) O papel da desigualdade social e econômica no mal-estar da população em geral, incluindo a tal da saúde mental.
Enfim, como vocês podem notar, teve vários pontos fortes no livro. Os pontos fracos, na minha opinião, foram o pouco espaço dedicado a analisar a construção de identidade a partir de diagnósticos psiquiátricos, um mal do nosso século; além disso, o autor claramente é anticomunista apesar de ser ferrenho crítico do neoliberalismo. Isso me deu um pouco de preguiça, apesar de eu entender os pontos dele sobre como não conseguiremos ser completamente homogêneos enquanto sociedade. O autor também é bastante crítico de críticas à existência de autoridade, o que eu acho disputável.
Mas, sem dúvidas, o que estragou foi o final, que propõe basicamente uma ação individual para subverter o neo-liberalismo, argumentando que o problema não são os outros, somos nós mesmos: "And we ourselves must take the first steps towards creating that social polity through the choices that we make." Acho preocupante que o autor nade tanto para morrer na praia (ou seja, faça uma argumentação brilhante no começo e meio do livro para terminar nessa ladainha individualista).
De qualquer forma, acho que vale a pena a leitura.
@andreigolemsky Quando terminar, conta pra gente o que achou. Vi um pessoal falando que esse livro é muito chato, e sua opinião contrária me deixou curiosa.
According to current thinking, anyone who fails to succeed must have something wrong with them. The pressure to achieve and …
@felipesiles Li esse no ano passado. Boa leitura :-)
According to current thinking, anyone who fails to succeed must have something wrong with them. The pressure to achieve and …
Nesse livro, Nadya Tolokonnikova, uma das participantes e fundadoras do grupo Pussy Riot, que utiliza de arte punk para denunciar crimes de Estado na Rússia, relata suas experiências no ativismo. O Pussy Riot ficou conhecido no começo dos anos 2010 por suas ações artísticas irreverentes e destemidas contra a plutocracia putinesca, e Nadya e outras companheiras suas foram presas pelo Estado russo por desobediência civil.
O livro tem formato de guia, e, apesar de eu ter muita preguiça desses manuais de ativismo, senti que aqui esse formato fez sentido. Além de guia, é uma autobiografia. Nadya escreveu o livro originalmente em inglês, que não é sua língua materna, o que ajudou a linguagem a ser simples e direta. Dessa forma, a leitura é para todes, mesmo aqueles que não são muito iniciados no ativismo ou que não têm grandes contextos de ciências sociais e políticas ou filosofia.
São 10 regras …
Nesse livro, Nadya Tolokonnikova, uma das participantes e fundadoras do grupo Pussy Riot, que utiliza de arte punk para denunciar crimes de Estado na Rússia, relata suas experiências no ativismo. O Pussy Riot ficou conhecido no começo dos anos 2010 por suas ações artísticas irreverentes e destemidas contra a plutocracia putinesca, e Nadya e outras companheiras suas foram presas pelo Estado russo por desobediência civil.
O livro tem formato de guia, e, apesar de eu ter muita preguiça desses manuais de ativismo, senti que aqui esse formato fez sentido. Além de guia, é uma autobiografia. Nadya escreveu o livro originalmente em inglês, que não é sua língua materna, o que ajudou a linguagem a ser simples e direta. Dessa forma, a leitura é para todes, mesmo aqueles que não são muito iniciados no ativismo ou que não têm grandes contextos de ciências sociais e políticas ou filosofia.
São 10 regras que ela separa por capítulos; a própria autora argumenta que podem ser jogadas no lixo caso o leitor assim o queira. Cada capítulo é separado em três partes: palavras, ações e heróis, que têm função autobiográfica, filosófica e historiográfica de certa forma.
Dentre os heróis citados por Nadya, estão Martin Luther King, a dupla Yes Men, Michel Foucault, Aleksandra Kollontai e bell hooks, entre outros.
Como Nadya é grande crítica da oligarquia de Putin e também do capitalismo norte-americano na figura de Trump (que havia sido recém-eleito quando o livro foi lançado), você também pode esperar grandes críticas ao autoritarismo soviético, que tem grandes rusgas na sociedade russa até hoje. Penso que tais críticas são essenciais para uma análise justa do período do socialismo real. Entretanto, senti que as palavras macias e até inspiradas por uma pessoa específica, Vladimir Bukovsky, me incomodaram. Em alguns aspectos, a crítica anti-autoritária em relação à URSS acabam sendo em grande parte apenas anti-comunismo e pró-capitalismo. Longe de mim querer dizer o que um sobrevivente de prisões e trabalho forçado deve achar ou não, mas não acho justo nos colocarmos contra abusos em regimes comunistas se achamos ok recebermos medalhas cujo nome são Truman-Reagan (sem brincadeira, é só olhar a Wikipedia).
Enfim, acho que a particularidade russa tem muito a ver com essa questão: como propor uma subversão a Putin e sua oligarquia, detonar o capitalismo e fazer uma crítica justa e correta aos tempos soviéticos, tudo ao mesmo tempo, sem cair em falácias? De qualquer forma, acho que Nadya se saiu muito bem no livro.
Minha parte preferida do livro foram as menções à anti-psiquiatria e luta antimanicomial, e a parte que mais me tocou foram seus relatos dos tempos de prisão e trabalho forçado, ainda que eu não concorde com todas as saídas que ela propõe para a questão do encarceramento na Rússia. De qualquer forma, excelente livro, com um problema ou outro. Não é difícil de ser lido, e nos ajuda a criar esperanças para a luta nesse começo de 2024.
Feminismo, ativismo, arte, literatura, sistema judicial, sistema penitenciário, antipsiquiatria, resistência, Nadya atravessa todos esses temas de corpo inteiro, num relato …
@Uma_Mocinha tenho algumas recomendações que, humildemente, penso que são muito boas em quadrinhos de não-ficção: Persépolis, A Diferença Invisível, Pílulas Azuis, MAUS. Talvez você queira dar uma olhada nesses, se te interessar. Mas esse realmente é horrível em vários aspectos.
As ilustrações da história em quadrinhos são excelentes. Aqui, estilos diferentes são misturados entre capítulos, mas de alguma forma, faz sentido e não fica esquisito. O problema está na narrativa.
O primeiro capítulo narra a história da infância de Angela Davis, importante ativista dos direitos civis estadunidense. A narradora desse capítulo é Cynthia Wesley, amiga de infância de Davis, e é uma narração fictícia pois Cynthia morreu em um atentado terrorista da KKK em 1963, quando Angela já não morava mais em sua cidade natal. Esse capítulo é até que bem elaborado, principalmente se você não conhece a história de Wesley. Entretanto, o primeiro problema já aparece ao final do primeiro capítulo: nenhum contexto mais específico sobre esse atentado e seus impactos no movimento negro estadunidense é dado pela narração, que passa a ser dada por uma jornalista branca fictícia após a morte de Wesley na narrativa. Aliás, essa jornalista …
As ilustrações da história em quadrinhos são excelentes. Aqui, estilos diferentes são misturados entre capítulos, mas de alguma forma, faz sentido e não fica esquisito. O problema está na narrativa.
O primeiro capítulo narra a história da infância de Angela Davis, importante ativista dos direitos civis estadunidense. A narradora desse capítulo é Cynthia Wesley, amiga de infância de Davis, e é uma narração fictícia pois Cynthia morreu em um atentado terrorista da KKK em 1963, quando Angela já não morava mais em sua cidade natal. Esse capítulo é até que bem elaborado, principalmente se você não conhece a história de Wesley. Entretanto, o primeiro problema já aparece ao final do primeiro capítulo: nenhum contexto mais específico sobre esse atentado e seus impactos no movimento negro estadunidense é dado pela narração, que passa a ser dada por uma jornalista branca fictícia após a morte de Wesley na narrativa. Aliás, essa jornalista branca eu até achei que fosse uma pessoa real, mas descobri que é um recurso narrativo, especulo que seja uma personagem criada para não fazer com que a autora, de la Croix, uma mulher branca francesa, soasse estranha narrando a história de Davis.
Todo o "plot" dessa jornalista não faz nenhum sentido e ela parece incapaz de formular alguma coisa que não seja colocar Davis em um pedestal de ativista-modelo perfeita, com um tom irritante que era para ser lisonjeiro mas só parece exagerado mesmo. Aparece até uma criança negra que eu não faço ideia de onde saiu. Completamente dispensável.
Quanto à biografia de Davis, em si, entendo a limitação de uma história em quadrinhos de colocar tudo em um volume físico. Provavelmente foi por isso que a autora selecionou alguns pontos memoráveis: a ida de Davis à Universidade, seus primeiros envolvimentos políticos, a militância pela libertação dos irmãos Soledad, sua prisão e posterior libertação. Um problema sério aqui é que falta coesão entre os acontecimentos, muitas coisas ficam simplesmente jogadas e o leitor que não é ambientado com a história de Davis pode perder muitos contextos importantes para o desenvolvimento. Além disso, não consegui identificar qual seria a faixa etária adequada para essa história em quadrinhos, é gráfico demais para ser infantil, mas tem linguagem pouco adulta, então... provavelmente jovem-adulto.
Em resumo, não gostei. Se você quer algo realmente substancial sobre Angela Davis, melhor partir para a autobiografia mesmo.
Negra. Ativista. Revolucionária. Angela Davis é uma das maiores ativistas do nosso tempo. Sua história de vida e sua luta …
Feminismo, ativismo, arte, literatura, sistema judicial, sistema penitenciário, antipsiquiatria, resistência, Nadya atravessa todos esses temas de corpo inteiro, num relato …
Só não dou uma das menores notas (0.5/5 ou 1.0/5) porque essa honraria está destinada aos livros da Colleen Hoover, se um dia eu tiver o desprazer de ler.
Esse livro é escrito por uma quadrinista que também é socióloga, mas ela falha completamente em entregar um ponto. A tese dela é a seguinte: no capitalismo tardio, as pessoas se apaixonam menos que antes. É uma tese disputável, mas também razoável. O problema é que a autora se perde completamente na hora de comprovar sua tese, ela vai e volta na história, culpa as feministas, culpa os psicanalistas, culpa os romantistas machistas do século XIX, e eu não consigo entender o que ela quer entregar aqui. Fica até difícil tecer uma resenha crítica desse jeito.
Quanto à arte dos quadrinhos, ou você faz quadrinhos, ou você escreve muralhas de texto à mão. Não gosto do segundo tipo de arte aparecendo …
Só não dou uma das menores notas (0.5/5 ou 1.0/5) porque essa honraria está destinada aos livros da Colleen Hoover, se um dia eu tiver o desprazer de ler.
Esse livro é escrito por uma quadrinista que também é socióloga, mas ela falha completamente em entregar um ponto. A tese dela é a seguinte: no capitalismo tardio, as pessoas se apaixonam menos que antes. É uma tese disputável, mas também razoável. O problema é que a autora se perde completamente na hora de comprovar sua tese, ela vai e volta na história, culpa as feministas, culpa os psicanalistas, culpa os romantistas machistas do século XIX, e eu não consigo entender o que ela quer entregar aqui. Fica até difícil tecer uma resenha crítica desse jeito.
Quanto à arte dos quadrinhos, ou você faz quadrinhos, ou você escreve muralhas de texto à mão. Não gosto do segundo tipo de arte aparecendo nos quadrinhos. Algumas páginas são muralhas de texto com a letra estilizada da autora, o que cansou meus olhos ao tentar entender por que estava tudo tão torto. Também não gostei dos desenhos.
Vale a pena ressaltar que, além de tudo, achei um pouco heterossexista e a autora invariavelmente reforça a lógica monogâmica como se esse fosse o verdadeiro jeito de se apaixonar romanticamente.
Resumindo: não recomendo. Também não vou me estender em uma resenha de um livro que não gostei nem um pouco.