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Yuri Bravos

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Jessé Souza: A Elite do Atraso (Paperback, Brazilian Portuguese language, 2017, Leya) 4 stars

Quem é a elite do atraso?Como pensa e age essa parcela da população que controla …

O caso atual da exploração da ralé brasileira pela classe média para poupar tempo de tarefas domésticas, sujas e pesadas – que lhe permite utilizar o tempo “roubado” a preço vil em atividades mais produtivas e mais bem-remuneradas – mostra uma funcionalidade da miséria clara como a luz do Sol. Essa luta de classes silenciosa exime toda uma classe dos cuidados com os filhos e da vida doméstica, transformando o tempo poupado em dinheiro e aprendizado qualificador. A classe roubada, no caso, é condenada eternamente a desempenhar os mesmos papéis secularmente servis.

A Elite do Atraso by 

Eita que lenhada. Pior é ter claro diante dos olhos esse tipo de relação naturalizada em pessoas próximas. Fica evidente aí o aspecto estrutural desse abandono.

Inclusive, peguei o livro para ler exclusivamente pelo título, sem saber o teor do conteúdo e fui "pego de surpresa" pelo tema central ser racismo estrutural. Torna a coisa mais pungente.

Jessé Souza: A Elite do Atraso (Paperback, Brazilian Portuguese language, 2017, Leya) 4 stars

Quem é a elite do atraso?Como pensa e age essa parcela da população que controla …

O quadro geral da sociedade de classes que se criou depois da escravidão apresentava para Florestan o seguinte formato: no topo da hierarquia social, a preservação e reprodução do poder estavam nas mãos das antigas famílias proprietárias rurais de cafeicultores com pouco espaço de competição. (...) Abaixo da aristocracia rural que se moderniza, no entanto, na esfera aberta pela livre empresa em expansão, prevalecia a ideia liberal do homem certo para o lugar certo. O “estrangeiro” aparecia aqui, inclusive, como a grande esperança nacional de progresso rápido. (...) Abaixo do segmento dos novos incluídos no mercado competitivo existiria uma plebe nacional composta por brancos que vinham do campo para as cidades e para quem os interstícios da nova ordem eram de qualquer modo um ganho em relação à miséria material e moral da dependência pessoal. Mais abaixo ainda, dá-se a constituição histórica daquilo que chamo de “ralé brasileira”: composta pelos negros recém-libertos e por mulatos e mestiços de toda ordem para quem a nova condição era apenas outra forma de degradação. A submersão na lavoura de subsistência ou a formação das favelas nas grandes cidades passam a ser o destino reservado pelo seu abandono. Temos aqui a constituição de uma configuração de classes que marcaria a modernização seletiva e desigual brasileira a partir de então. (...) O negro torna-se vítima da violência mais covarde. Tendo sido animalizado como “tração muscular” em serviços pesados e estigmatizado como trabalhador manual desqualificado – que mesmo os brancos pobres evitavam –, é exigido dele agora que se torne trabalhador orgulhoso de seu trabalho.

A Elite do Atraso by  (Page 71 - 72)

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Byung-Chul Han: O desaparecimento dos rituais (Portuguese language, 2021, Editora Vozes) No rating

Rituais podem ser definidos como técnicas simbólicas de encasamento. Transformam o estar-no-mundo em um estar-em-casa. …

À caça por novos estímulos, excitações e vivências, perdemos hoje a capacidade de repetição. Aos dispositivos neoliberais como autenticidade, inovação ou criatividade é inerente uma coação permanente ao novo. Eles produzem, contudo, ao fim e ao cabo, apenas variações do igual. O velho, o sido, que admite uma repetição realizadora, é abolido, pois se opõe à lógica do aumento de produção. Repetições, contudo, estabilizam a vida. Sua característica essencial é o encasamento.

O novo cai logo na rotina. É mercadoria que se gasta e provoca novamente a necessidade de algo novo. A coação de ter que rejeitar o rotineiro produz mais rotina. É inerente ao novo uma estrutura de tempo que logo esmaece em rotina. A coação de produção como coação ao novo apenas aprofunda o atoleiro da rotina. Para escapar da rotina, do vazio, consumimos ainda mais coisas novas, novos estímulos e vivências. Justamente a sensação de vazio impulsiona a comunicação e o consumo. A "vida intensiva" como reclame do regime neoliberal não é outra coisa do que consumo intensivo. Face à ilusão da "vida intensiva" vale refletir sobre uma outra forma de vida que seja mais intensiva do que o consumo e a comunicação contínuos

O desaparecimento dos rituais by  (Page 22 - 23)

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Byung-Chul Han: O desaparecimento dos rituais (Portuguese language, 2021, Editora Vozes) No rating

Rituais podem ser definidos como técnicas simbólicas de encasamento. Transformam o estar-no-mundo em um estar-em-casa. …

A comunicação digital se desenvolve hoje cada vez mais em uma comunicação sem comunidade. O regime neoliberal força à comunicação sem comunidade, na medida em que cada um é isolado se tornando produtor de si mesmo. Produzir vem do verbo latino producere, que significa mostrar ou tornar visível. A palavra em francês produire ainda tem o senti- do de exibir. Se produzire, se produzir, significa se pôr em cena. A expressão coloquial alemă sich produzieren vem claramente dessa mesma etimologia. Hoje, nos produzimos em geral e compulsivamente, e as mídias sociais são um exemplo disso. O social está completamente subordinado à produção de si. Cada um se produz com o intuito de gerar mais atenção. A coação da autoprodução provoca uma crise da comunidade. A assim chamada "Community", invocada em tudo que é parte hoje, é ela mesma apenas um vestígio, uma forma de mercadoria e de consumo, da comunidade. Falta-lhe por completo a coesão simbólica.

O desaparecimento dos rituais by  (Page 27)

Jessé Souza: A Elite do Atraso (Paperback, Brazilian Portuguese language, 2017, Leya) 4 stars

Quem é a elite do atraso?Como pensa e age essa parcela da população que controla …

A passagem do sistema casa-grande e senzala para o sistema sobrado e mocambo fragmenta, estilhaça em mil pedaços uma unidade antes orgânica – antagonismos em equilíbrio, como prefere Freyre. Esses fragmentos espalham-se agora por toda parte, completando-se mal e acentuando conflitos e oposições. Da casa-grande e senzala, passando por sobrados e mucambos, até hoje em dia, bairros e condomínios burgueses e favelas, as acomodações e complementaridades ficam cada vez mais raras. De início, a cidade não representou mais do que o prolongamento da desbragada incúria dos interesses públicos em favor dos particulares poderosos.

(...)

Desse modo, a urbanização representou uma piora nas condições de vida dos negros livres e de muitos mestiços pobres das cidades. O nível de vida caiu, a comida ficou pior e a casa também. Seu abandono os tornou, então, perigosos, criminosos, maconheiros, capoeiras, etc. Os sobrados senhoris, também nenhuma obra-prima em termos de condições de moradia, por serem escuros e anti-higiênicos, tornaram-se com o tempo prisões defensivas do perigo da rua, dos moleques, dos capoeiras, etc. Uma lógica de convivência naturalizada com a desigualdade social que também veio para ficar, com o bem sabemos, hoje em dia, na sociedade dos condomínios fechados.

A Elite do Atraso by 

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Nathan Schneider, Darija Medic: Governable Spaces (Paperback, en language) No rating

When was the last time you participated in an election for an online group chat …

Life can flourish on rotting logs, as brown’s fungi remind us. If nation-state democracy is rotting, then we might allow ourselves to imagine its erosion not solely as a loss. Rot is metabolism, an act of digestion into something else. If ­democracy is not a static organism so much as an evolving symbiosis, then we can allow ourselves to search for more of the possible feedback loops that we could sense and act on.

Governable Spaces by , (5%)

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Plato: Apologia de Sócrates (Portuguese language, 2008, L&PM) No rating

O julgamento de Sócrates (469-399 a.C.) foi um dos fatos históricos mais importantes da Grécia …

Mas é o que está por vir que desejo profetizar para vocês, os que votaram contra mim, pois já estou naquele ponto em que os homens mais profetizam: quando estão prestes a morrer. Afirmo que a vocês, varões (aos que me mataram), um castigo há de chegar logo depois da minha morte – muito pior, por Zeus, que aquele com que vocês me mataram. Porque vocês fizeram isso pensando que haveriam de se livrar de ter de submeter suas vidas à refutação, mas vai se passar com vocês inteiramente o contrário, conforme eu mesmo afirmo: serão mais numerosos os seus refutadores, aos quais eu continha, sem que vocês percebessem. E serão tanto mais duros quanto mais jovens forem, e vocês ficarão mais abalados ainda. Pois se vocês pensam que, matando homens, haverão de impedir que alguém os reprove por não viverem corretamente, não raciocinam corretamente; é que esse livramento não é de todo possível nem belo, mas aquilo sim é belíssimo e facílimo: não podar os outros, mas se equipar para ser o melhor possível! Depois então de adivinhar tais coisas para vocês que votaram contra mim, estou livre para morrer.

Apologia de Sócrates by 

Jessé Souza: A Elite do Atraso (Paperback, Brazilian Portuguese language, 2017, Leya) 4 stars

Quem é a elite do atraso?Como pensa e age essa parcela da população que controla …

No mundo moderno, a dominação de fato tem quer ser legitimada cientificamente. Quem atribui prestígio hoje em dia a uma ideia é a ciência, assim como antes era a religião. É a ciência hoje, mais que a religião, que decide o que é verdadeiro ou falso no mundo. Por conta disso, toda informação midiática, no jornal ou na TV, procura se legitimar com algum especialista na matéria que esteja sendo discutida.

A Elite do Atraso by 

E assim surgiu o conceito de gravar um vídeo de alguém sentado numa mesa falando para um microfone como se fosse um podcast, pois é assim que se porta especialistas hoje: eles vão em podcasts.

Jessé Souza: A Elite do Atraso (Paperback, Brazilian Portuguese language, 2017, Leya) 4 stars

Quem é a elite do atraso?Como pensa e age essa parcela da população que controla …

Hoje em dia, na Europa e nos Estados Unidos, absolutamente ninguém deixa de se achar superior aos latino-americanos e africanos. Entre os melhores americanos e europeus, ou seja, aqueles que não são conscientemente racistas, nota-se o esforço politicamente correto de se tratar um africano ou um latino-americano como se este fosse efetivamente igual. Ora, o mero esforço já mostra a eficácia do preconceito que divide o mundo entre pessoas de maior e de menor valor. A desigualdade ontológica efetivamente sentida, na dimensão mais imediata das emoções, tem que ser negada por um esforço do intelecto que se policia. Os rituais do politicamente correto são explicáveis em grande medida por esse fato.

(...)

Que americanos e europeus se deixem colonizar por esse tipo de concepção de mundo que os dignifica é lamentável, mas compreensível. Afinal, conseguem vantagens bem concretas a partir desse fato. Que os latino-americanos em geral e os brasileiros em particular tenham se deixado e ainda se deixem, até os dias de hoje, colonizar por uma concepção racista e arbitrária que os inferioriza e lhes retira a autoconfiança e a autoestima não é apenas lamentável. É uma catástrofe social de grandes proporções.

A Elite do Atraso by  (Page 18 - 21)

Palpável, seja do médico ou do advogado que se entendem como seres acima do bem e do mal, seja no sentimento difuso que tudo do Brasil é menos e tudo de fora é mais.