1) O espaço104 não é um conceito empírico que foi extraído de experiências exteriores. Com efeito, para que certas sensações sejam relacionadas a algo fora de mim (isto é, a algo em uma região do espaço distinta daquela onde me encontro), para eu representá-las como externas e próximas entre si e, portanto, não meramente diferentes, mas, como em diferentes regiões, a representação de espaço já tem que ser seu fundamento. Consequentemente, a representação do espaço não pode ser obtida das relações do fenômeno externo através da experiência; antes, essa experiência exterior é ela mesma primeiramente possível somente através dessa suposta representação.
2) O espaço A24 é uma representação necessária a priori que serve de fundamento a todas as intuições externas. Não se pode jamais produzir uma representação de que não existe espaço algum, ainda que se possa muito bem pensar que não há nele qualquer objeto a ser encontrado. B39 Portanto, é o caso de considerá-lo a condição da possibilidade dos fenômenos e não uma determinação deles dependente, e é uma representação a priori que necessariamente dá fundamento a fenômenos externos.
3) O espaço não é um conceito discursivo ou, como se diz, um conceito universal das relações das coisas em geral, A25 mas uma intuição pura. Com efeito, em primeiro lugar, só se pode representar um único espaço e, quando se fala de muitos espaços, entende-se por isso apenas partes de um e idêntico espaço. Essas partes também não podem, por assim dizer, anteceder esse espaço único e que tudo abarca, como seus constituintes (a partir dos quais sua composição seria possível); pelo contrário, somente podem nele ser pensadas. Ele é essencialmente uno: o múltiplo nele presente e, portanto, também o conceito universal de espaços em geral apoiam-se pura e simplesmente em limitações. Daqui se conclui que, no tocante a ele, uma intuição a priori (que não é empírica) dá fundamento a todos os seus conceitos. Assim, também todos os princípios da geometria, por exemplo, o de que em um triângulo a soma de dois lados é sempre maior do que o terceiro, jamais são derivados de conceitos universais de linha e de triângulo, mas da intuição, e isso a priori com certeza apodítica.
4) O espaço é representado como uma dada grandeza infinita. Ora, é necessário, decerto, pensar em cada conceito B40 na qualidade de uma representação que está encerrada em um conjunto infinito de distintas representações possíveis (como sua marca comum), que, portanto, encerra estas sob si; contudo, nenhum conceito, como tal, pode ser pensado como se encerrasse um conjunto infinito de representações em si. Não obstante, é o espaço assim pensado (pois todas as partes do espaço no infinito são concomitantes). Consequentemente, a representação original do espaço é intuição a priori, e não conceito.